No mesmo dia em que morria Napoleão, a 5 de Maio de 1821, começava a publicar-se na florescente cidade inglesa de Manchester o jornal acima, prometido para 200 anos de publicação. Hoje chama-se simplesmente The Guardian, e, com uma audiência cada vez mais alargada, desde 1964 que os seus serviços se mudaram para Londres. Ora entre os artigos celebratórios publicados pelo jornal a pretexto destes 200 anos, aquele que eu gostaria de destacar pela auto-critica, é aquele cuja ilustração publico mais abaixo em que se passa em revista as grandes asneiras que ali se publicaram ao longo de todos aqueles anos. O exercício é bastante engraçado e é acompanhado de uma explicação da evolução do posicionamento político do jornal. (Esclareça-se que, quando o The Manchester Guardian surgiu em 1821, a publicação se revestia de um carácter político radical, já que a cidade, que era um dos pólos da Revolução Industrial em Inglaterra, não era sequer representada no Parlamento. Quando o passou a ser, com a Reforma de 1832, passou a sê-lo logo por dois deputados. Seriam seis no final do século XIX, tal o desenvolvimento de Manchester.) Mas a história das inflexões políticas posteriores do jornal, logo a começar pelas do próprio século XIX, dão origem a opiniões que hoje apreciamos ironicamente. Como a postura apaixonadamente em prol da superioridade da raça branca aquando da Revolta dos Sipaios de 1857 na Índia Britânica. Ou as simpatias pela causa dos Confederados durante a Guerra de Secessão na América em 1861. Outros são erros de previsão que se vêm a revelar descomunais: como o que minora as consequências do atentado de Junho de 1914 que vitimou o herdeiro austro-húngaro e que afinal deu origem à Primeira Guerra Mundial; ou então o que tenta elaborar um cenário político em função de uma especulação dos resultados eleitorais das primeiras eleições britânicas depois da Segunda Guerra Mundial - sugerindo uma coligação entre trabalhistas e liberais, quando os verdadeiros resultados irão dar uma maioria parlamentar esmagadora aos primeiros. Uma terceira categoria é composta de erros factuais, que são a consequência da evolução científica. A imagem abaixo destaca duas: um cenário elaborado por um meteorologista qualquer que antecipa, em meados do século passado, que as temperaturas iriam globalmente baixar no século XXI (note-se que a ousadia de antecipar uma nova era glaciar já será cabeçalho de jornalista...); ou o deslumbramento com novos materiais, no caso o amianto (asbestos), antes de se conhecerem os seus impactos secundários, neste caso o facto de ser cancerígeno. Claro que os erros se tornam muito mais apelativos quando ocorrem mais próximos do nosso tempo: o artigo dedica uma especial atenção ao comportamento do jornal a propósito do que nele se escreveu por ocasião do referendo do Brexit em Junho de 2016. Mas, insisto, vale a pena ler o artigo todo. Sobretudo porque neste meio jornalístico não é muito frequente ter-se a oportunidade de cumprimentar a imaginação de quem tornou interessantes estes erros profissionais.
Muito bom!
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