25 maio 2021

SALVANDO A TAP COMO PASSAGEIROS DA RYANAIR

É cada vez mais ribombante o silêncio como têm sido acompanhados estas sucessivas injecções de capital para salvar a TAP. Ontem foram mais 462 milhões e o total já se cifra em 1.662 milhões, o que já não deslustra quando em comparação com os (contestados) montantes que têm sido injectados no Novo Banco. Claro que se pode argumentar que as duas injecções não são comparáveis, mas a fronteira das opiniões divididas passa também por dentro do próprio partido governamental e o ministro Pedro Nuno Santos e o seu clã dentro do PS (habitualmente qualificado como a ala esquerda do dito) já perceberam certamente que estão sozinhos nisto. Se correr mal, prefiguram-se muitos camaradas da sua própria bancada socialista que, por ora silenciosos, estarão dispostos a projectarem-se para os seus 5 minutos de fama «à Mariana Mortágua» numa qualquer futura comissão parlamentar para inquirir retrospectivamente porque correu mal aquilo que eles já esperavam que corresse mal. As agências de comunicação que o governo suporta conseguem saturar o espaço mediático com as fosquices do que acontece nos outros partidos, mas parece-me bem mais importante o ambiente de albergue espanhol que grassa no PS. Ou melhor, dado que o assunto de base versa o transporte aéreo, a comparação será mais apropriada se feita com uma colecção típica de passageiros que apanha os voos da Ryanair: «... têm de engolir um voo de um bom par de horas com pessoas com quem não têm nada em comum: é muito chato e desconfortável, mas ao menos acaba por se chegar para onde se queria ir*». O poder. E o que fazer com ele?... O problema aqui é que, como se constata por este exemplo da TAP, cinco anos e meio depois da aventura arriscada da geringonça, se perdeu nos militantes do PS o consenso em que aeroporto se quer aterrar. Pior: descontada a propaganda da bazuca, não vale a pena perguntar a António Costa...
* A comparação original não é minha mas de Suzy Stride, a propósito dos trabalhistas ingleses: «...having to stomach a couple of hours' flight with people they shared little in common with; it could be unconfortable but you got you where you needed to go

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