09 maio 2021

A ABDICAÇÃO DO REI DE ITÁLIA

Roma, 9 de Maio de 1946. No que poderia ser considerada uma manobra política de última hora, Vítor Emanuel III, que fora o rei de Itália nos últimos 46 anos, abdica em seu filho Humberto (II) de 41 anos. A imagem e reputação da monarquia italiana ficara indelevelmente associada ao fascismo (1922-1943). No final da Segunda Guerra Mundial, no quadro das grandes reformas - essas sim - estruturais por que quase todos os países da Europa Ocidental estavam a passar, na Itália agendara-se para 2 de Junho de 1946 um referendo sobre a questão da natureza do regime: monárquico ou republicano? Na verdade, o facto de a abdicação do velho monarca de 76 anos, que durante mais de vinte anos fora promovido ao lado de Benito Mussolini como figura do fascismo, só se estar a concretizar menos de um mês antes da realização do referendo era simbólico de como a Casa de Saboia parecia estar dissociada da realidade social italiana. Antecipando já o desfecho do que veio a acontecer, no final os resultados deram uma derrota honrosa à instituição que era aqui à última hora protagonizada pela nova figura do novo rei Humberto II: 10 719 284 contra os 12 717 923 votos que se pronunciaram pela república, a que há que acrescentar ainda os 1 498 136 nulos. (43% - 51% - 6%). Esta distribuição equilibrada de votos escondia uma outra realidade por detrás: mesmo dentro da Democracia Cristã, o partido conservador do espectro da política italiana, as sondagens realizadas mostravam que havia uma robusta maioria de militantes (60 a 73%) a favor da república; se isto era assim à direita, imagine-se o que acontecia entre os outros dois grandes partidos da esquerda italiana (socialista e comunista)... Enfim, e como muitas vezes aconteceu quando da queda das monarquias europeias, havia muito mais gente que simpatizava com a instituição do que aquela que se mostrava disposta a bater-se politicamente (ou de outra forma...) pela sua manutenção.

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