23 maio 2021

DENÚNCIA SOBRE A COMPLACÊNCIA COMO A COMUNICAÇÃO SOCIAL TRANSCREVE OS DISPARATES QUE SE DIZEM NAS REUNIÕES BLOQUISTAS

Comecei por não prestar atenção mas, mesmo assim, acabei por ficar cansado e depois irritado, tal era a densidade (cerradíssima!) como José Manuel Pureza repetia a expressão «extrema direita» ao longo do seu discurso do congresso do Bloco deste fim de semana. Mas, mais do que a forma, o que mais me irrita é a complacência como os jornalistas fazem ressoar acriticamente os disparates que ali se dizem. (corre por aí uma piada que, se em Portugal só os jornalistas votassem, o Bloco tinha a maioria absoluta na AR e era governo, e a Iniciativa Liberal era a oposição...) Recuperemos, por exemplo, o cabeçalho que a jornalista Catarina Maldonado Vasconcelos escolheu para a sua notícia na TSF, uma citação de uma passagem do discurso de Fernando Rosas: «A extrema-direita encosta-se às velhas direitas porque essa é a forma de chegar ao poder». Ela que experimentasse escrever o mesmo mas agora da perspectiva simétrica: «A extrema-esquerda (Bloco) encosta-se às velhas esquerdas (PS) porque essa é a forma de chegar ao poder». Não faz - também - todo o sentido? Mais, não foi um verdadeiro encosto ao poder que (o senador - sic) Francisco Louçã lá foi fazer, àquele mesmo congresso, lançando o slogan Mariana Mortágua a ministra das Finanças? Um belo slogan político que dominou uma fase dos trabalhos e que foi devidamente propagado acriticamente pela mesma Catarina Vasconcelos? Mas regressemos ainda ao discurso do (senador) Rosas e a uma outra passagem destacada, quando se realça que a luta política contra a extrema direita... «trava-se no terreno das ideias, nas representações do mundo...». Formulado assim eu concordo com Rosas mas quero deixar muito claro que não o vejo a praticar nada do que ali diz. Em primeiro lugar, uma luta política travada no «terreno das ideias» tem de permitir que o oponente exponha democraticamente as suas, por muito absurdas que sejam. Ora, no Bloco a ordem é amordaçar o Chega. É nesses detalhes que se percebe que, apesar de recoberto por uma camada de açúcar, o Bloco é uma organização comunista, totalitária. E em segundo lugar, e quanto às «representações do mundo», e para dar um exemplo bem concreto e recente, dissocio-me das afirmações de Fernando Rosas há três meses quando, a propósito da morte do tenente-coronel Marcelino da Mata, o classificou de traidor à causa da independência do seu próprio país (veja-se abaixo). Independentemente de Marcelino da Mata ser um ícone da extrema direita, nas minhas «representações do mundo» existe a liberdade de quem emigra escolher ser fiel ao país de acolhimento (Portugal) em vez do de origem (Guiné-Bissau). Uma liberdade que Fernando Rosas não quer reconhecer especificamente a Marcelino da Mata já que, a milhares de outras pessoas oriundas de África e que se naturalizaram portuguesas, não me consta que ele se atreva a classificá-las a todas de traidoras. O seu argumento é, por isso, mais do que um disparate, uma contradição lógica, e o que me parece influenciar a opinião de Fernando Rosas será o facto de Marcelino da Mata, para além de ter imigrado para Portugal e ter adquirido a nacionalidade portuguesa (como, por exemplo, aconteceu com Joacina Katar Moreira!), foi a circunstância de ter combatido por Portugal numa das guerras de África. O que acredito que irritará superlativamente Rosas, mas não desqualificará os direitos de Mata em querer ser português. Embora me pareça que a cegueira ideológica de Rosas - herança dos tempos do maoismo? - não lhe permita perceber a diferença. Aliás, na altura em que prestou aquelas disparatas declarações na televisão, conviria tê-lo rebatido, alertando-o para que, no quadro legal vigente à época dos acontecimentos, o traidor havia sido ele, Fernando Rosas... Mas para isso era preciso que os jornalistas que escutam todos estes disparates utilizassem o seu sentido crítico. Olhem, precisamente aquele aguçado sentido crítico que jornalistas como Bárbara Reis utilizam para desmascarar as aldrabices do Chega e de André Ventura... Era uma forma de eu ficar mais satisfeito com a equidistância crítica da comunicação social e me dispensaria de escrever textos indignados como este.

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