10 maio 2021

O INTRIGANTE VOO DE RUDOLF HESS

10 de Maio de 1941. No curso de uma Segunda Guerra Mundial que ainda não perdera a dinâmica de alastrar como um violento incêndio (o último episódio, o alargamento do conflito aos Balcãs ocorrera há um mês), o mundo é surpreendido com a notícia de uma iniciativa que permanece inexplicável até aos dias de hoje, a não ser que se considerem doses de ingenuidade e convencimento que não seriam expectáveis de alguém com as responsabilidades do seu protagonista. Rudolf Hess (canto superior esquerdo) era o representante de Adolf Hitler junto do partido nacional-socialista, era um dos seus próximos. E a melhor explicação para o que aconteceu é que Hess, sem dar conhecimento nem pedir a autorização a Hitler ou, pelo menos, anunciá-lo a qualquer outra pessoa do topo da hierarquia alemã, resolveu tomar a iniciativa de apresentar pessoalmente uma proposta de paz aos britânicos. Para tal, e porque pilotava, embarcou num Messerschmitt Bf 110 (canto superior direito) num voo clandestino para a Escócia, onde pretendia encontrar-se com o duque de Hamilton (canto inferior esquerdo), um oficial superior da RAF ali estacionado que Rudolf Hess conhecera no Verão de 1936, por ocasião dos Jogos Olímpicos de Berlim, e com quem contaria para o pôr em contacto com o governo britânico. O plano de Hess é tão ingénuo que chega a ser inverosímil. O avião foi acolhido com fogo anti-aéreo e o piloto, ao invés de aterrar, preferiu lançar-se em para-quedas. O avião acabou por despenhar-se (canto inferior direito). O encontro correu muito menos bem do que Rudolf Hess antecipara. Este poderá ter ficado com uma impressão das simpatias políticas do duque - naquele mesmo Verão de 1936, um dos irmãos do duque fornecera aos insurrectos espanhóis o avião que transportara Franco das Canárias para Marrocos - mas a eclosão da guerra tornara o patriotismo numa prioridade em detrimento da ideologia. A distinção que Rudolf Hess lhe queria conferir, tornava-se agora um embaraço para o duque, que rapidamente transferiu responsabilidades para a sua hierarquia. Acabou por ser um diplomata do Foreign Office, Ivone Kirkpatrick, que estivera vários anos colocado em Berlim e que por isso conhecia bem a hierarquia nazi, o encarregado de ouvir em primeira mão as propostas de Rudolf Hess trouxera (sem estar mandatado). Essencialmente tratava-se de uma ameaçadora proposta de paz: «Veja se mete na cabeça que a Alemanha está certa de ganhar a guerra. Hitler faz tudo de uma maneira maciça e genial. Não faz ideia do número de aviões e submarinos que mandou construir. (...) A minha viagem é a vossa última oportunidade; se a não aproveitarem, Hitler terá razão para vos reduzir à escravatura.» Os britânicos encolheram os ombros e comunicaram-lhe que era prisioneiro de guerra e que seria tratado como tal até ao fim da guerra. Discretamente, pediram aos médicos psiquiatras para o avaliarem. A notícia demorou uns três dias a saber-se (abaixo): na edição de 13 de Maio o assunto em Portugal rivalizava com a peregrinação a Fátima.

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