14 maio 2021

A CHAPADA A TOSCANINI

Arturo Toscanini, de quem já eu tive a oportunidade de me referir aqui no Herdeiro de Aécio, foi um dos grandes maestros da primeira metade do século XX. E, como bom italiano (quase é redundante ter de o especificar...), foi dos mais temperamentais maestros também. Há muitas histórias a esse respeito e, neste trecho abaixo e só para exemplo, podemo-lo ouvir ao vivo a descompor a orquestra num ensaio, em 1943, quando ele já se mudara para a América. Mas não nos antecipemos e não invertamos os papéis aos personagens, porque na efeméride de hoje, por acaso a vítima do bullying até foi o próprio Toscanini...
14 de Maio de 1931. Arturo Toscanini tinha ido reger um concerto ao Teatro Comunale de Bolonha. A apresentação contaria com a presença na assistência de algumas figuras ministeriais do governo fascista e, por causa disso, pediram a Toscanini que fossem tocados os hinos nacional e do partido fascista, a Giovineza (abaixo). O maestro recusou-se e, como consequência, as entidades ministeriais cancelaram a sua presença. Porém, a solução não terá agradado a todos e ainda nessa noite, alguns camisas negras (militantes fascistas) mais exaltados fizeram-lhe uma espera, agredindo-o fisicamente (tinha 64 anos) e fazendo-lhe um ultimato para que abandonasse imediatamente a cidade.
Toscanini reagiu: antes de partir para Milão por volta das duas da manhã, enviou um telegrama para Mussolini denunciando o que acontecera. O Duce não respondeu ao telegrama mas pôs de imediato todo o aparelho a tentar abafar as notícias sobre o que acontecera. O incidente ficou conhecido como «a chapada (lo schiaffo) a Toscanini». E, embora continuasse a residir em Itália (até 1939), Toscanini não voltou a actuar no seu país até 1946. Por despeito, as autoridades chegaram a apreender-lhe o passaporte, mas o mais irónico de tudo é que Toscanini até fora um simpatizante fascista e dos mais precoces: até se apresentara como candidato a deputado logo nas eleições de 1919! (Não fora eleito).  

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