15 maio 2021

CAVACO SILVA E OS SEUS PRÓPRIOS «MONSTROS DA DESPESA»

Só pode ter sido por malícia que os jornalistas da TSF colocaram esta imagem abaixo do ex-presidente e ex-primeiro-ministro Cavaco Silva com o Centro Cultural de Belém (CCB) por detrás, a criticar o «monstro da despesa pública» (que precisa de ser alimentado pelos nossos impostos e que faz com que o governo «tribute tudo o que mexe»). Ora o Centro Cultural de Belém tornou-se, mesmo trinta anos depois da sua inauguração (mais abaixo, notícia de Fevereiro de 1991), o emblema do despesismo descontrolado dos governos de Cavaco Silva. Para o recordar, vale a pena ir consultar uma notícia do arquivo da RTP, que era então a única estação de televisão e controlada (naturalmente) pelo governo. Apresentada como uma «peça retrospectiva das polémicas que rodearam a construção do Centro Cultural de Belém, nomeadamente as que se encontram relacionadas com os elevados custos das obras», a versão mais benigna sobre a derrapagem dos custos que a RTP pôde apresentar, defendendo a acção do governo (de Cavaco Silva) ás críticas do Tribunal de Contas, era que «... o primeiro orçamento falava em 14 milhões de contos (...) e que o orçamento final foi aumentado para 27 milhões de contos...». Era praticamente o dobro do original, mas as informações que circulavam, como o explica a peça televisiva, era que se gastara o quintúplo daquilo que fora inicialmente orçamentado! Perante isso, deixar derrapar as despesas para o dobro do que se orçamentara até parecia razoável... Note-se, e para que não se desconverse a propósito da utilidade e funcionalidades do CCB: eu também sou um utente regular do Centro Cultural de Belém. Agora, coisa distinta é reconhecer que o controle dos custos associados à sua edificação foram um momento particularmente infeliz do domínio do crescimento do «monstro da despesa pública», protagonizado precisamente pelo executivo de Aníbal Cavaco Silva. Nesse aspecto específico, não tem nada de que se orgulhar, antes pelo contrário. Sobre os jornalistas da TSF fica a dúvida quanto às razões porque escolheram a foto. Quanto ao fotografado, ficou-lhe a faltar só a vergonha de reconhecer que o passado não foi o encadeamento de sucessos de que se gaba.

Sem comentários:

Enviar um comentário