16 junho 2019

OS ALIADOS ENDEREÇAM UM ULTIMATO À ALEMANHA

Versailles, 1919. Acima vemos Clemenceau, com a cartola levantada, Wilson, preparando-se para a levantar, e Lloyd George, que, de sorriso malandro e agarrado à bengala, parece não fazer tenção de saudar os presentes como os seus homólogos. Apesar da cortesia sugerida pela imagem, a 16 de Junho de 1919, há precisamente cem anos, os Aliados endereçaram um ultimato à Alemanha: em Berlim tinham cinco dias para se decidirem a aceitar incondicionalmente os termos do Tratado que viera a ser negociado até aí. Negociado sobretudo entre os vencedores, entenda-se. Se Berlim não o fizesse, os Aliados ameaçavam revogar as condições de armistício que se mantinham desde 11 de Novembro de 1918, o que constituía uma forma eufemística e rebuscada de invocar o reinício das operações militares e da ocupação da Alemanha, num momento em que a Alemanha se desmoronara militarmente por dentro. Mas mesmo desmoronada, as reacções populares na Alemanha sobre o assunto eram as que se podem deduzir pela fotografia abaixo, de uma manifestação de protesto diante do Reichstag (de uma certa forma irónica, muito idênticas às que os gregos faziam aqui há uns poucos de anos na praça Sintagma de Atenas). Mas, acompanhado da ameaça expressa que a situação só podia piorar, a aceitação do Tratado lá acabou por passar com uma votação de 237 votos favoráveis versus 138. O Tratado foi assinado dia 28 de Junho, mas o que nos interessa aqui são os bastidores da História.
ADENDA: Nem de propósito e a coincidir com o centenário do ultimato, numa daquelas coincidências que torna a opinião expressa ainda mais ridícula, temos um dos mais desastrados opinadores das colunas de opinião da imprensa portuguesa ((1),(2),(3)), a desprezar os ensinamentos do passado, para reencenar a actualidade, agora com Londres no lugar que há cem anos era de Berlim. A estes opinadores a História não ensina nada, mas creio que eles também não andam nisto para aprender, muito menos ensinar, resume-se a uma questão, como escrevia ontem João Miguel Tavares, de nos fornecer «chaves de interpretação»... embora desconfie que as «portas» onde essas «fechaduras» estão aplicadas, guardam salas onde o conhecimento não é a preocupação principal.  

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