29 junho 2019

«HAMMERTRUMP»

O comportamento abusivo, errático, por vezes inexplicavelmente incoerente, como Donald Trump tem vindo a gerir a política externa dos Estados Unidos, corroborada mais uma vez através dos inúmeros pequenos episódios por ele protagonizados durante a cimeira do G20 no Japão, fez-me lembrar aquele aforismo que estabelece que aqueles que escolhem equipar-se com martelos desenvolvem uma tendência para lidar com o que os confronta como se fosse tudo cabeças de prego. Como Trump abdicou dos fingimentos de que há algum género de multilateralismo na ordem internacional, perde-se o sentido de convocar reuniões deste género em que, com tudo discutido à martelada, uma boa parte dos participantes só lá está a fazer figuração.
É apenas a inércia que empurra ainda para destaque as fotografias de conjunto, mas o teor do que se relata assenta quase exclusivamente no que acontece nos encontros bilaterais, nomeadamente entre Trump e Xi, com a coreografia correspondente, de que está a correr tudo bem. Por exemplo, no caso da fotografia acima, em que não reconhecemos metade dos presentes e em vez dos sorrisos e acenos generalizados, a imprensa norte-americana destacará o passou bem atencioso que é endereçado por Trump ao esquartejador-mor da Arábia Saudita, enquanto a imprensa europeia preferirá concentrar-se na expressão insatisfeita de Jean-Claude Juncker, indício provável que a fotografia foi tomada antes do jantar e que não serviam aperitivos.
Em contrapartida, esta última fotografia é um excelente exemplo de Theresa May a dar satisfação à opinião pública e publicada do seu país, indignada com o facto de os russos andarem a promover operações «à James Bond» no país do James Bond. O desdém exibido por May pelo seu interlocutor, conjugando-se com o facto de ela estar de saída do cargo (algo que a Putin nem lhe passará pela cabeça...), tornou a ocasião única, e a capacidade de reacção das partes assimétrica. Os britânicos, de resto, não deixaram passar a ocasião e um pequeno incidente de Putin andar a beber por um copo próprio, para deixar entendido que envenenamentos e operações afins, tal qual aconteceu no Reino Unido, são receios levados muito a sério pelos dirigentes russos.

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