07 outubro 2018

SER-SE OU NÃO SE SER UM(A) «SURVIVOR». A NOVILÍNGUA SEM SER IMPOSTA POR UM «BIG BROTHER»

Não sei se já repararam como a comunicação social de língua inglesa incorporou subtilmente durante os últimos meses a expressão de "survivor" para se referir às vítimas da violência sexual. Tanto assim que mesmo em publicações de referência e já fora dos Estados Unidos - no caso exemplificado acima trata-se do jornal The Guardian - passou a coexistir a mesma palavra para referir duas realidades que são muito diferentes: as duas activistas que incomodaram o senador norte-americano por causa de uma votação no Senado não terão nada em comum com as vítimas do tsunami na Indonésia.
A causa é justa, mas não consigo ficar indiferente ao exagero. Porque se percebe aqui que o exagero não é um exclusivo de Donald Trump e da América que está com ele. Ser-se um(a) sobrevivente de um assalto sexual é um daqueles excessos de linguagem que apenas vingou pela cobardia de quase ninguém se dispor a denunciá-lo por excessivo. E que acaba por se tornar ofensivo para muitas outras circunstâncias em que a palavra verdadeiramente se justifica. Não apenas quando de catástrofes naturais, mas também de outros episódios muito tristes da História, como seja o do Holocausto.
E registe-se, com surpresa e ao contrário do que George Orwell predissera, que basta muito empenho dos activistas radicais e alguma cobardia de quem o não é, e que nem é preciso um Big Brother para a criação de algumas das novas palavras do Newspeak (novilíngua) que ele antecipou na sua famosa distopia... E espero sinceramente que o disparate não se transmita à língua portuguesa.

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