Como a prática que o texto pretende denunciar, também o título escolhido é enganoso. Os papagaios não são da Alemanha, país que não é, de resto, conhecido por contar com tais bichos entre a fauna nativa. Os papagaios em causa têm mais a ver com a atitude papagueante como se tem noticiado a evolução política da cena alemã, como se tem passado adiante conclusões superficiais que não resistem a um olhar mais atento. Este mês realizaram-se duas eleições estaduais na Alemanha: na Baviera há quinze dias e ontem em Hesse. Os cabeçalhos da informação concentraram-se nas enormes perdas (na ordem dos 10%) registadas pelos partidos da grande coligação governamental (GroKo - CDU/CDU e SPD). Em contraste, essas descidas foram compensadas por subidas similares nos resultados dos Verdes e, sobretudo, da AfD, a nova formação da extrema direita alemã. São essas as diferenças que se podem ver no quadro abaixo, assinaladas a vermelho. E, no entanto, alguém se esqueceu de explicar (e o Observador acima fez como a Maria: foi com as outras...), que as eleições estaduais que serviram de referência a tão profunda análise tinham ocorrido há cinco anos. Contudo, a Alemanha fora assolada por um verdadeiro terramoto político há um ano, quando das eleições federais, em que já houvera um decréscimo significativo dos resultados dos grandes partidos tradicionais, que obrigaram, aliás, a que se formasse a presente GroKo. E o que se pode concluir dessa outra análise, a dos resultados eleitorais deste mês, quando comparados com o que aconteceu a nível estadual no ano passado, tal qual está assinalada no quadro abaixo a preto? Em primeiro lugar, que continua a existir um desgaste dos partidos da GroKo - em conjunto eles perderam um pouco mais de 7% dos votos desde 2017 em qualquer dos dois estados. Que a progressão da extrema direita parece ter perdido o ímpeto que mantivera até aqui: em Hesse, a AfD ganhou ontem mais 1,2% dos votos, embora tivesse perdido 2,2% na Baviera há duas semanas. E que quem parece estar a capitalizar com o descontentamento parecem ser sobretudo os Verdes (+ 7,7% na Baviera, + 10,1% em Hesse), o que, mostrando-se eles favoráveis ao acolhimento de imigrantes, não fornecerá cabeçalhos suficientemente alarmistas aos nossos jornais para descrever a evolução da situação política alemã. Todos sabem quanto um título envolvendo Alemanha e extrema direita rende muito mais do que qualquer outro...
Sem comentários:
Enviar um comentário