14 outubro 2018

OS «FACT CHECK» DO OBSERVADOR: É COMO ENCARREGAR UM LADRÃO DE DESCOBRIR QUEM FOI O AUTOR DE UM ROUBO...

Observador strikes again. No caso, elege um daqueles argumentos de discussão política que apenas são formalmente verdadeiros e que foi apresentado por João Galamba do PS nas redes sociais - a Moody's colocou Portugal no lixo quando o primeiro-ministro era Passos Coelho, não Sócrates - para concluir com o veredicto de que a frase é enganadora. Para além do que se seguirá, apetece-me comentar que que aquele jornal se notabiliza acima na denúncia daquilo em que, nos casos em que a posicionamento político é o inverso, tanto se esmera: mostrar-se económico com a Verdade. No caso em referência, o que no Observador acusam - e bem - Galamba é que ele não se pode esquecer que quando a Moody's baixou o rating da dívida portuguesa para uma categoria de "lixo" (e logo 4 níveis! - veja-se o gráfico abaixo) tinha o governo de Passos Coelho um par de semanas de vigência. Não é que eu não tenha visto naquele jornal argumentos mais forçados que esse mas, a bem da isenção, resulta forçado atirar a responsabilidade da desclassificação efectuada por aquela agência de notação em Julho de 2011 exclusivamente para o colo de Passos Coelho.
Mas o assunto resulta muito maior do que a frase de Galamba. Porque há outras agências de notação que a frase de Galamba não menciona mas que, mesmo assim, no Observador se sabe que existem. E essas agências de notação foram mais cautelosas na avaliação da situação, nomeadamente levando em conta que em Portugal houvera uma mudança de governo. Nomeadamente a S & P, como se vê no gráfico abaixo, concedeu ainda ao governo de Passos Coelho o benefício da dúvida seis meses depois, mantendo a notação, para depois, já em Novembro de 2012 e com o governo em exercício já há cerca de ano e meio baixar efectivamente a notação em dois níveis, para o nível de "lixo". Se, no caso da Moody's, o facto de João Galamba ter endossado a responsabilidade do rebaixamento do rating da dívida pública para Passos Coelho era excessivo, abandonando a frase e no quadro mais vasto do que aconteceu com a nossa reputação junto das agências de rating, há uma evidente co-responsabilização de Passos Coelho por nos ter prometido a reversão da situação para onde Sócrates nos atirara e que fracassou colossalmente.
Porque convém não esquecer - e sobre isto desconfio que no Observador não estarão interessados em realizar fact checks - aquilo que o PSD prometia aos portugueses três meses antes da sua chegada ao poder, em Março de 2011 (abaixo). Na opinião do então dirigente do gabinete de estudos do partido, Carlos Moedas, hoje comissário europeu (o que leva a concluir que, quando destinados a singrar, os mariolas bem podem prometer não importa o quê...), prometia então o comissário europeu Moedas que as reformas que um futuro governo do PSD iria aplicar fariam o rating de Portugal subir: «essas agências voltarão a dar credibilidade a Portugal». Por muito que o ministro Centeno faça umas celebrações despropositadas a respeito da saída da categoria de "lixo" pela Moody's, é de rigor reconhecer que, sete anos e meio depois, o rating de Portugal nas várias agências de notação nem sequer voltou aos níveis que possuía em Março de 2011. Os tais que Moedas prometeu que subiriam com o PSD no governo... E que tal o Observador realizar um Fact Check sobre as profecias visionárias do comissário Moedas quando regressarmos à reputação que tínhamos em princípios de 2011?...
Em suma, se é verdade que foi José Sócrates quem nos pôs na merda, é outra verdade que não foi Pedro Passos Coelho que nos conseguiu tirar de lá. Ao contrário dos fact checks do Observador, as verdades quando são verdadeiras podem não ter qualquer aproveitamento politico.

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