5 de Outubro de 1988. No Chile, quinze anos depois do golpe de Estado de 11 de Setembro de 1973, realizou-se um acto eleitoral para decidir sobre a prorrogação do poder de Augusto Pinochet até ao dia 11 de Março de 1997. Eram oito anos adicionais a acrescer aos quinze e meio que já lhe haviam sido concedidos com a aprovação da Constituição de 1980. E a grande surpresa do acto eleitoral foi o resultado: a proposta foi rejeitada por 56% dos votos expressos. Perceba-se o enquadramento que justificava a surpresa: ainda se vivia sob a ordem da Guerra Fria e as ditaduras ganhavam sempre os actos eleitorais que organizavam. Num dos lados, aliás, nem havia eleições que merecessem esse nome. As eleições nos países comunistas eram actos administrativos. E era isso o que se esperava que acontecesse sob o regime de Pinochet no Chile, apesar de estar do outro lado. Mas não: as eleições foram suficientemente livres e suficientemente justas para que ocorresse um desfecho contrário ao que se desejava no palácio de La Moneda. Foi o início de uma transição do Chile para um regime bem mais democrático, embora os militares se tivessem assegurado de todas as garantias para que não fossem perseguidos pelo seu papel durante os dezasseis anos de ditadura. Nesse mesmo dia 5 de Outubro de 1988, por coincidência, era promulgada também a Constituição brasileira e a dois dias da primeira volta das eleições presidenciais nesse país, vale a pena trazer aqui uma reflexão amarga sob o bónus inesperado que foi afastar pela via das urnas um ditador (Augusto Pinochet) há trinta anos no Chile, quando comparado com a perspectiva de fazer um outro (Jair Bolsonaro) chegar ao poder precisamente por aquelas mesmas vias no Brasil.
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