21 outubro 2018

AZAD HIND - O COLABORACIONISMO QUE NÃO FOI RENEGADO

21 de Outubro de 1943. Constitui-se em Singapura o Governo Provisório da Índia Livre (Arzi Hukumat-e-Azad Hind), encabeçado por Subhas Chandra Bose (1897-1945). Subhas Bose fora um dos dirigentes destacados do Congresso indiano antes da Guerra, mas acabara por entrar em conflito com Gandhi e abandonara a organização em 1939. Com a eclosão daquela, as divergências acentuaram-se: ao neutralismo pacifista de Gandhi, contrapunha-se a aliança tácita com o inimigo do inimigo que era proposta por Bose, no que era acompanhado por uma facção mais radical dos nacionalistas indianos. Bose acabou por fugir para a Alemanha, onde ajudou a formar uma unidade militar indiana formada por antigos prisioneiros de guerra que depois combateu ao lado dos alemães. Já aqui foi referida no Herdeiro de Aécio. Mas o interesse de Subhas Bose (e a utilidade de o empregar pelas potências tutelares...) estava muito longe da Europa. Era na Ásia, onde os exércitos japoneses que ocupavam a Birmânia ameaçavam a Índia, que se combinavam o interesse do próprio e de quem se dispunha a patrociná-lo. Em 1943, Subhas Chandra Bose realizou uma prolongada e complexa viagem de submarino que o levou para o outro lado do mundo. Partido em Fevereiro desse ano da Alemanha num submarino alemão, a viagem envolveu um transbordo para um submarino japonês em Madagáscar, a meio do percurso, que só se veio a concluir com a sua chegada a Singapura em Maio. Os japoneses também já haviam pensado em recrutar entre os seus prisioneiros de guerras de origem indiana um exército de auxiliares que combatesse ao seu lado contra os britânicos. Contudo, terá sido a alavanca política representada pela presença e propaganda de Subhas Bose, a quem se passara a dar o título honorífico de Netaji (Líder Respeitado em hindi/urdu), que terá feito com que os efectivos desse exército indiano de libertação (o INA - 43.000) correspondesse a cerca de ⅔ dos efectivos totais de prisioneiros indianos capturados pelos japoneses durante o conflito (64.500).
Claro que nem todos os membros do INA haviam sido prisioneiros, como se pode constatar, aliás, por esta fotografia acima, em que a unidade é feminina, mas a elevadíssima percentagem de alistamentos tornou-se um daqueles embaraçosos segredos de guerra, guardado ferreamente pelos britânicos, tanto mais que ela contrasta com a percentagem de 20% de adesões que se havia registado no caso dos prisioneiros de guerra indianos na Europa. Aliás, tão ou mais importante do que a quantidade, a maioria dos oficiais e sargentos de origem indiana que enquadravam as tropas também aderiu ao INA. O Governo Provisório que se constituiu há precisamente 75 anos é o apex político desse esforço de mobilização. Apesar de aparecer fardado nas fotos, Subhas Chandra Bose nunca havia tido qualquer experiência militar. A avaliação séria do desempenho deste outro exército indiano é afectada pelos preconceitos distintos (mas coexistentes) de britânicos e japoneses e dos seus relatos. Como projecto político, a Azad Hind não iria durar dois anos. Afundou-se conjuntamente com o Japão em Agosto de 1945. Pessoalmente, Subhas Chandra Bose morreu em 18 de Agosto de 1945, em consequência dos ferimentos resultantes de um acidente de aviação. Mas a questão política daqueles que haviam pegado em armas contra a Índia colonial continuou a subsistir. Quando as autoridades britânicas quiseram, depois do fim da guerra, levar a julgamento os responsáveis políticos e militares que haviam pegado em armas contra o Raj, depararam-se com a oposição dos nacionalistas. Terá sido até a última vez em que o Congresso e a Liga Muçulmana agiram de forma concertada, pois entre os réus tanto havia hindus como muçulmanos. Para surpresa dos britânicos, e ao contrário dos princípios que vigoravam na Europa que fora ocupada, ter-se sido colaboracionista ao serviço de uma potência hostil não funcionava como um estigma na Índia. Num ambiente que cada vez mais se adensava contra a sua presença, os britânicos tiveram que desistir da sua intenção. Mais do que isso, na Índia actual e como se pode constatar pelo vídeo abaixo, Subhas Chandra Bose é considerado um grande herói nacional.

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