25 de Fevereiro de 1948. Há setenta anos os comunistas apoderavam-se da exclusividade do poder na Checoslováquia. Não interessa neste momento reevocar como o processo aconteceu, apenas recordar que os comunistas haviam ganho as eleições de Maio de 1946, onde haviam recolhido 38% dos votos e conquistado 114 dos 300 lugares do parlamento checoslovaco - uma maioria relativa, portanto. O Golpe de Estado não consistiu apenas nem sobretudo na demissão dos ministros dos outros partidos da coligação que sustentara até aí o governo no parlamento (acima), consistiu na dispensa que foi concedida a partir desta data ao governo (depois formado quase exclusivamente por comunistas e aparentados) para que continuasse a governar, mas dispensando o escrutínio parlamentar. Todo este episódio é muito engraçado de comparar com o que aconteceu entre nós no Outono de 2015, depois das eleições de 4 de Outubro daquele ano, sobretudo com os argumentos que então foram brandidos de cada um dos lados do espectro partidário. É que aqui eles funcionariam precisamente ao contrário... Os mais indefectíveis votantes da coligação de Direita (Portugal à Frente), que nessa altura achavam apenas natural que a coligação assumisse as rédeas da governação, mesmo que ela não contasse com o apoio de uma maioria parlamentar qualificada, achariam decerto neste caso checoslovaco que a mesma lógica, porque envolvia os comunistas, já não se aplicaria. E vale a pena imaginar o que diria a Esquerda, mormente os comunistas do PCP, se Pedro Passos Coelho recorresse ao apoio de Bruxelas para pressionar o presidente Cavaco Silva a mantê-lo no poder em qualquer circunstância, como o fez Klement Gottwald em 1948, recorrendo à influência de Moscovo para pressionar o presidente Beneš a fazer isso mesmo (abaixo, notícia da época). É mais que certo que se iria encontrar as mesmas pessoas a defenderem posições diametralmente opostas num caso e noutro. Eu aprecio a discussão política quando ela tem lógica, coerência e consistência. Quando a não tem, e os argumentos são aduzidos ou escamoteados conforme as circunstâncias e conveniências, então nada distingue a discussão política da futebolística. E a discussão futebolística nem é um exercício menor, é ainda menos do que um exercício gratuito, é um exercício apenas estúpido, por muito que ele se tenha ultimamente banalizado, por muita benevolência como se tem assistido a uma futebolização progressiva da discussão política.
Sem comentários:
Enviar um comentário