27 fevereiro 2018

O CLÍMAX DO REFLUXO DO ESPÍRITO DA DESCOLONIZAÇÃO

27 de Fevereiro de 1978. Com as declarações proferidas pelo coronel Gaddafi na OUA, Portugal vê-se obrigado a explicar-se na ONU porque é que não descolonizou ainda mais. O dirigente líbio (que mais tarde veio a ser um grande amigo de Portugal) olhou para um Atlas, onde constatou que a Madeira se localizava em latitudes africanas, e deve ter sabido pelos seus serviços de informações que, durante o PREC, aparecera por lá um movimento independentista denominado Flama. A Flama (Frente de Libertação do Arquipélago da Madeira) tinha até um braço armado, denominado Brima (Brigadas Revolucionárias da Independência da Madeira), como então estava na moda (recorde-se que, no mesmo estilo, cá no contenente havia o PRP e as BR adjacentes). Uma ou outra, a verdade é que, durante o PREC e mesmo depois, os independentistas madeirenses se tinham distinguido por andar a colocar bombas. Muitas. E nesse aspecto a Flama tinha mostrado ter uma acção revolucionária muito mais activa em prol da autodeterminação do povo madeirense do que havia sido feito, comparativamente, pelo PAIGC em Cabo Verde ou pelo MLSTP em São Tomé e Príncipe (essencialmente nada). O problema dos serviços de informação líbios é que eles não haviam captado as subtilezas da política local, o espírito brincalhão de alguns dos seus protagonistas. Tudo aquilo não era propriamente para levar a sério, e, por consequência, o que aconteceu é que eles deixaram o líder fraternal e guia da revolução líbia a fazer uma triste figura ao apoiar uma causa em plena OUA, que já não queria ser apoiada. Dali por menos de três semanas Alberto João Jardim tomaria posse como o 2º presidente do governo regional da Madeira. Há quarenta anos, o governo português sentia-se compelido a emitir uma nota de imprensa, justificando-se do que a distância temporal mostra que era injustificável: Portugal não tinha que se justificar, nem tinha lições de Democracia a receber de uma ditadura unipessoal.

Sem comentários:

Enviar um comentário