19 de Fevereiro de 1978. O preâmbulo desta história começa por uma daquelas situações de crise tão típicas dos anos da década de 1970: um comando terrorista árabe de dois homens procedera a uma tomada de reféns numa convenção que estava a ter lugar num grande hotel de Nicósia, Chipre. Um dos presentes fora assassinado no assalto, mas outros 16 delegados (árabes) haviam sido feitos reféns. Nas negociações que se haviam seguido com as autoridades cipriotas, os terroristas haviam obtido um avião (o DC-8 das linhas aéreas de Chipre das imagens acima) para os transportar com os reféns para um destino à sua escolha. O problema é que nenhum país vizinho os quis acolher. As imagens acima apanham o DC-8 já de retorno a Nicósia, depois da aterragem lhes ter sido negada em vários destinos. Os terroristas viam-se perante um impasse. Simultaneamente, havia a perspectiva egípcia da questão: se apenas um dos dezasseis reféns era egípcio, o refém que fora assassinado também o era e, para mais, tratava-se de alguém considerado muito próximo do presidente Anwar Sadat. O Egipto estava a assumir um interesse muito especial no assunto, Sadat telefonara ao seu homólogo Spyros Kyprianou que lhe assegurara que iria supervisionar pessoalmente a gestão da crise dos reféns. Ao mesmo tempo, os egípcios enviaram um comando especial a bordo de um avião militar C-130 para Chipre, para a eventualidade de um assalto ao aparelho usado pelos terroristas. Recorde-se que o resgate de aviões sequestrados estava então na moda, uma moda que fora criada em 1976 pelos israelitas, com a operação no aeroporto de Entebbe, no Uganda, a que se seguiu em 1977 uma operação semelhante protagonizada pelos alemães em Mogadishu, na Somália. Apresentava-se uma excelente ocasião para os egípcios emularem os seus rivais israelitas. Só que, quiçá para beneficiarem mais completamente do efeito surpresa, os membros do comando egípcio não se coordenaram minimamente com o dispositivo militar que os cipriotas tinham disposto ao redor do DC-8. Por outro lado, os militares de Chipre tinham os seus próprios problemas de amor próprio depois de em 1974 terem visto a sua ilha a ser invadida pelas tropas turcas (que ocupavam - e ainda ocupam - o norte de Chipre). Só cá faltava aparecer uma outra grande potência muçulmana a operar em Chipre discricionariamente. A reacção dos cipriotas à tentativa de assalto não autorizada dos egípcios foi feroz, com uma potência de fogo com que os egípcios não estavam a contar. Os combates terão demorado cerca de uma hora, neles terão morrido quinze membros do comando, assim como a tripulação do C-130 que os havia transportado (destruído com um míssil anti-tanque!) e pelo menos uma dúzia adicional de comandos terão ficado feridos, assim como um número não divulgado de cipriotas. O Egipto assumiu o papel de parte ofendida, rompeu as relações diplomáticas com Chipre, mas o desenrolar dos acontecimentos veio dar toda a razão aos cipriotas, é um daqueles casos de política internacional em que as culpas nem se conseguem repartir. Os dois terroristas palestinianos da FPLP, sentindo-se encurralados, já então estavam em vias de se render: ainda naquele dia foram presos e posteriormente extraditados - apesar de tudo - para o Egipto, que manifestou interesse em os julgar, onde foram condenados a prisão perpétua. As relações egipto-cipriotas demoraram mais de três anos e meio a serem reatadas. Mas, como assinalavam logo os jornais da época (abaixo), era impossível não perceber o que teria motivado (desastradamente) os egípcios: a vaidade de também terem a sua operação de Entebbe («Vanitas vanitatum et omnia vanitas»)
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