16 maio 2017

PELO QUADRAGÉSIMO ANIVERSÁRIO DA ESTREIA DE GABRIELA NA TELEVISÃO PORTUGUESA

16 de Maio de 1977. Ao serão estreava-se na RTP a primeira telenovela brasileira: Gabriela, Cravo e Canela, uma adaptação para folhetim da obra homónima de Jorge Amado. Na edição do dia seguinte do Diário de Lisboa o crítico televisivo Mário Castrim mostrava-se francamente prudente quanto às perspectivas do seu sucesso, embora a observação do episódio inicial lhe permitisse emitir desde logo várias opiniões tão substantivas quanto assertivas: «Primeiro, porque o nível artístico da Telenovela não suscitará entusiasmo por aí além. Em segundo lugar, porque transmitir durante 45 minutos durante não sei quantos meses - eis qualquer coisa que ultrapassa todos os esquemas das Televisões europeias.» Mas, apesar de parecer ter uma opinião já formada, Mário Castrim prometia ainda regressar ao assunto: «Viremos a ter oportunidade de falar com mais vagar desta Telenovela. Para já, fique-se com a ideia de que se trata, a vários planos, de uma obra artesanal. Como se justifica, então, a fama de que vem precedida? (...) Para se compreender o entusiasmo, havemos de comparar esta Gabriela, não com Bellamy ou qualquer outro folhetim inglês já nosso conhecido, mas com... os folhetins brasileiros, cuja qualidade abaixo de cão tem fama em todo o mundo. Quanto ao êxito (...) junto do público português, o meu cepticismo permanece (...) ao contrário do que a alguns possa parecer, a língua constitui um obstáculo à comunicação (...) a oralidade brasileira quase necessita de legendação. Ao menos um glossário, isso falta.» Precisamente seis meses mais tarde, por ocasião da transmissão do último episódio da mesma telenovela, e constatado o indiscutível sucesso popular de Gabriela, o mesmo crítico escrevia uma outra crónica, desdizendo radicalmente tudo o que escrevera... Não quero cometer a crueldade de o citar metodicamente em todas as suas enormes contradições mas podemos citar as encomiásticas palavras finais desta última crónica «...cada cena era bilhete de trânsito para uma antologia de Televisão.» De artesanato a antologia!

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