09 maio 2017

COMO AS BOLHAS DE CO2 DA ESPUMA DA CERVEJA


De França chegam-nos notícias de que o ex-primeiro-ministro Manuel Valls se arregimentou à nova maioria presidencial (acima). Para ele o Partido Socialista francês está morto e cá em Portugal concorda-se. O que não se diz, e convém esclarecer porque contraria o que se deixa subentendido, é que, pela tradição francesa, não é nada trágico assistir assim ao desaparecimento de partidos políticos. A verdade é que, se isso acontecer, o PS não chegará a completar 50 anos (apareceu em 1969). Antes disso e por 64 anos houve uma formação da mesma área política que era conhecida por SFIO. O que será um registo respeitável na política francesa é este Partido Socialista ter afinal durado tanto tempo com este formato e com este rótulo. Repare-se que, durante esse mesmo tempo, a formação gaullista à sua direita mudou sucessivamente de designação de UDR (1967-76) para RPR (1976-2002), para UMP (2002-15), para ser rebaptizada de Les Républicains desde há dois anos. O sistema eleitoral francês (círculos uninominais a duas voltas) torna a política local muito fluída. As formações políticas não têm a coesão das dos outros países e a geometria tende a reformar-se amplamente em função das circunstâncias. Imaginem-se numa esplanada de Verão, sem nada para fazer, a contemplar as bolhas que se formam e assomam no copo da imperial à vossa frente; há umas bolhas que crescem mais que as outras até explodirem, apenas para que o espaço entretanto vago venha a ser ocupado por novas bolhas. A cintura de espuma continua lá e para mim trata-se de uma boa metáfora do que é a dinâmica da política francesa: se olharmos para as bolhas parece que anda tudo muito agitado, se olharmos para a gola de espuma da cerveja apercebemo-nos que continua tudo na mesma. Se o PS desaparecer, como aconteceu em 1969 com a SFIO depois de outra hecatombe numa outra eleição presidencial, os políticos daquela área só têm que arranjar um novo nome para uma outra formação que desempenhe as mesmas funções.

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