Viajar foi sempre uma boa ocasião para se observar os costumes alheios para os comparar com os nossos, máxima que perdeu apenas alguma importância com a tão propagandeada globalização. Olhar para a programação televisiva em França, por exemplo, e apreciar o enorme contraste que é dedicado, aqui e lá, ao futebol, é qualquer coisa de muito relevante. Porque sobre o dito, e especificamente ele (e não as discussões subsequentes), o que pude encontrar em mais de uma semana de estadia, foi um grupo de alguns comensais que, numa sexta-feira à noite e num bar de Estrasburgo, seguiam o embate entre a equipa local e o Niort. Em contrapartida, e para preencher os tempos por cá oferecidos ao Pedro Guerra e seus compères, há muito mais programas televisivos que por lá se classificam de magazine de actualidades, como será o caso do C dans l'air (acima), que passa nas tardes do canal France 5 (público) e a que tive oportunidade de assistir a uma das emissões. Acabei prestando mais atenção ao programa porque, ao contrário de muitos precedentes dedicados até ao enjoo à situação política francesa, este era dedicado aos Estados Unidos: Trump: Pânico na Casa Branca. E o figurino é-nos familiar. Há uma Ana Lourenço (aqui chamada Caroline Roux) como anfitriã, e há os convidados reputados pelas sua especialização no assunto a debater, com a primeira encarregue de que os segundos não dêem mostras de erudição demasiada, afugentando o auditório. É o paradoxo tradicional da televisão: os especialistas não são convidados para fazerem uma oração de sapiência, apenas para conferir prestígio ao programa (o que permite que uma data de especialistas, desde que assim apodados, passem por tal). Pelo que lhes ouvi, os especialistas em política americana que estiveram ali presentes não me pareceram mostrar tudo o que sabem, disseram apenas o que é conveniente que se diga em programas de tal teor: generalidades e alguns detalhes de maior impacto junto do auditório. Também na televisão francesa me pareceu tender-se a criar o ciclo fechado de que aqueles que são convidados para aparecer são os que aparecem porque já tinham sido convidados e aparecido. A diferença para o que acontece por cá é que em França eles são seis vezes mais que nós, o que dará ciclos mais alargados e mais espaço de tempo antes de se tornar a ver a mesma cara outra vez no ecrã a propósito de um assunto completamente diferente. Mas não só: eu não me lembro de ver cá em Portugal críticas ao ensimesmamento do comentário televisivo, nem, por exemplo, uma réplica doméstica a este pódio que se pode apreciar mais abaixo, com as caras substituídas devidamente pelas de Helena Matos, José Manuel Fernandes, Pedro Adão e Silva ou Miguel Sousa Tavares (apenas para dar alguns nomes às caras exibidas). Embora o conceito e a mecânica da engrenagem pareçam assemelhar-se.
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