Será preciso algum tempo (42 minutos), bastante paciência, mas não necessariamente muitos conhecimentos de russo, para acompanhar com interesse esta transmissão televisiva de época com a cerimónia de aprovação pelo Soviete Supremo da nova Constituição da União Soviética em 7 de Outubro de 1977. Parece existir um tradutor automático para tudo o que é pomposamente chato. Está lá tudo o que se pode esperar da coreografia de tais cerimónias: um longo discurso do secretário-geral Leonid Brejnev, votações por unanimidade, intermináveis e entusiásticas sessões de aplausos. É uma pena que a nossa RTP não tenha preservado no seu arquivo cerimónias em Portugal deste jaez, como, por exemplo, a segunda reeleição do almirante Américo Tomás feita pelo colégio eleitoral e que teve lugar no hemiciclo de São Bento em 25 de Julho de 1972¹ e que se lhe devia equiparar certamente em solenidade e emoção. Mas é um paradoxo que não são estas últimas, mas as outras, as de cima passadas ainda por cima em Moscovo, as cerimónias que ainda hoje gerarão nostalgias no espectro político português: ainda há pouco ouvi a antiga eurodeputada Ilda Figueiredo repetir pela enésima vez num programa de TV qualquer quanto são precisas outras políticas – que ela e os seus camaradas têm sempre o cuidado de não precisar em detalhe em que consistem. Pois bem, que não restem dúvidas que o arrastado discurso de Brejnev e a constituição da URSS foram uma expressão concreta dessas outras políticas. Para que fiquemos esclarecidos quando nos andam a impingir em novos embrulhos quinquilharia em segunda mão...
¹ Acrescente-se, por curiosidade, que nessa eleição (secreta, ao contrário da do braço no ar acima) não houve unanimidade: registaram-se 616 votos a favor, mas houve 29 nulos.
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