05 janeiro 2015

«DOIS, TRÊS, MUITOS VIETNAMES»

O apelo do título do poste encantou uma geração, é atribuído a Che Guevara, e a foto acima parece-me ideal para ilustrar a ingenuidade lírica de quem levou o apelo a sério. Uma fotografia tão esteticamente cuidada que bem poderia passar por publicidade ao relógio ou à marca de tabaco dos cigarros que o oficial do Vietcong fuma. O capacete distintivo localiza-o geograficamente, a esferográfica no bolso dá-lhe o estatuto diferenciado, a bandeira em fundo – que hoje estará completamente esquecida – confere-lhe a filiação política. A Guerra do Vietname e a existência de um Vietcong (David) em luta contra um Golias (Estados Unidos) era importante para a versão romanceada daquele conflito em que a geração que agora se aposenta queria acreditar. Na foto abaixo, torna a ver-se a mesma bandeira, quando do assalto ao palácio presidencial em Saigão, momento simbólico do fim da Guerra em Abril de 1975. Fotografia de acção em vez de posada como a anterior, continua a ser a mesma bandeira que lá está, pendurada da antena do carro de combate, mas dessa vez não há guerrilheiros vietcong à vista: tanto o blindado (um PT-76) como a sua tripulação são norte-vietnamitas. Esgotada a sua utilidade, o Viet Cong, que havia entrado em Saigão e ridicularizado a América, foi amalgamado na Frente Patriótica (novo partido único do Vietname unificado) dali por ano e meio. Os sulistas submeteram-se aos nortistas. 

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