Há uma fábula muito conhecida que nos conta que certo dia a raposa convidou a cegonha para jantar que lhe serviu nuns pratos rasos. A anfitriã lambia o seu com desembaraço enquanto a convidada fazia o que podia com o seu bico fino. Passados dias, esta última retribui-lhe a cortesia, mas dessa vez a etiqueta mudara pois o repasto foi servido em recipientes altos de abertura estreita, onde o bico da cegonha cabia às maravilhas mas onde a raposa se limitava a lamber as bordas. Em 1972, o presidente norte-americano Richard Nixon realizou uma visita então qualificada de histórica à China, mas de que hoje convém relembrar as circunstâncias. Os dois países reatavam relações depois de quase 25 anos de hostilidades, procedia-se a um subtil realinhamento entre dois protagonistas da Guerra-Fria, forçando a mão de um terceiro – a União Soviética. Estava tudo montado para que as cerimónias parecessem deslizar como por cima de seda, mas esta fotografia do banquete oficial oferecido pelo primeiro-ministro Zhou Enlai (à esquerda) ao ilustre convidado (que mostra não saber o que fazer com os pauzinhos que lhe deram) fez lembrar a alguns mais cepticos a vingança da cegonha da fábula de cima, para mais quando a expressão de Nixon parece mostrar o quanto se sente aprisionado na armadilha protocolar que lhe armaram. Ao seu lado direito identifica-se ainda Zhang Chunquiao, que estaria então no zénite do seu poder mas que poucos anos depois cairia em desgraça como membro do Bando dos Quatro.
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