Completamente ofuscadas pelas presidenciais norte-americanas, realizaram-se no fim-de-semana anterior eleições legislativas na Ucrânia. Passam-se os anos, sofisticam-se os meios, convidam-se estrelas mundialmente reconhecíveis (acima, o futebolista Andriy Shevchenko) para as abrilhantar, mas o estilo parece não ter evoluído praticamente nada desde a era soviética. Mais do que a votação propriamente dita, o escrutínio dos votos depositados nas urnas continua a ser uma operação fundamental para o resultado final. Enquanto escrevo o poste e apesar do governo já ter reclamado a vitória, ainda não existem propriamente resultados oficiais, os partidos da oposição já reclamaram por fraudes, a delegação da União Europeia já exortou as autoridades a apresentarem uma versão concluída dos resultados do escrutínio, enfim toda aquela coreografia pós-eleitoral clássica inerente às orlas semi-democráticas da Europa civilizada.
Para além desta espuma noticiosa, o que me parece mais interessante dos resultados (considerando-os fiáveis…) destas eleições ucranianas são os resultados que foram alcançados por alguns partidos secundários. O quarto lugar, com 13,2% dos votos e 32 deputados (em 450) foi alcançado pelo Partido Comunista Ucraniano, dirigido por Petro Symonenko (acima) secretário-geral desde há 19 anos, um homem que anda nisto desde sempre (do período soviético), um indício seguro que o partido é dirigido como deve ser. É sempre bom trazer alegrias aos comunistas portugueses mesmo se eles adoptam aquela técnica de acompanhamento do assunto à Benfica B: Mesmo que se ignore quem lá joga ou contra quem joga e até a própria classificação, impõe-se que qualquer benfiquista nunca expresse desinteresse público pela prestação do Benfica B na Liga Orangina. Assim, é muito provável que o Avante! venha a dedicar um artigo saudando o reforço das posições do PCU nas eleições ucranianas, mesmo que quem o escreva não perceba nada da política local – como às vezes acontece…
O quinto lugar entre os partidos mais votados foi alcançado por uma formação do outro extremo do espectro partidário, que se intitula Liberdade – Svoboda no original. O seu líder chama-se Oleh Tyahnybok (acima) e irá dirigir um grupo parlamentar de 37 deputados eleitos por 10,4% dos eleitores. Como outras organizações congéneres que despontaram recentemente (estou-me a lembrar da Aurora Dourada grega), trata-se – depois de anos a chamar pelo lobo na brincadeira… – de uma formação de extrema-direita a sério, xenófoba, que é cultural mas também etnicamente anti-russa e anti-semita. Há certas passagens dos discursos de Tyahnybok ;que dão vontade de pedir a Telavive que transfira o seu embaixador em Lisboa (Ehud Gol - abaixo) para Kiev, que ficará colocado num país onde haverá quem tratará as suas exortações públicas com uma simetria adequada. Porém, o que é relevante é que, em conjunto, as duas expressões dos extremos do espectro político aumentaram a sua votação 17,5% em relação ao último acto eleitoral…
Contudo, e por muito que os resultados eleitorais registem evoluções paralelas, a Ucrânia (ao contrário da Grécia) não pertence à União Europeia nem está sob intervenção de uma troika… Mas, se calhar, lá dirá o ditado que pelas costas dos outros vemos as nossas e o eleitorado ucraniano estará a debandar para novas experiências políticas como acontecerá, suspeito, com alguns eleitorados europeus quando vierem a ser consultados... O que acontecerá estatutariamente antes destes mais cinco anos de austeridade pedidos por Angela Merkel.
É absolutamente anti-ético chamar VO Svoboda de "anti-semita", pois o partido em absoluto não assenta a sua ideologia em negação dos direitos dos judeus. Todas as acusações contra VO Svoboda são baseadas numa única frase retirada do contexto. Tão pouco VO Svoboda é anti-russo. Como reitera o seu líder o partido é pró-ucraniano e isso incomoda muita gente.
ResponderEliminarEste é o género de argumento que também pode servir para defender Adolf Hitler e o NSDAP: eles eram sobretudo nacionalistas germânicos... apenas "embirravam" um "pouco" com eslavos e judeus.
ResponderEliminarJá agora, e mais a sério... que contexto alternativo e não xenófobo se pode dar à expressão "máfia moscovito-judaica" (москальско-жидівська мафія) que identifiquei num discurso de Tyahnybok colhido da Wikipedia?
Será que noutros discursos ele usará, quando a propósito, a expressão "máfia ucraniana"? Ou não, porque, como "pró-ucraniano", considera que os ucranianos não formam máfias?
É que dá-se a curiosidade de, entre os membros da extrema-direita portuguesa (e não só), essa expressão (máfia ucraniana) ser muito corriqueira...