21 novembro 2012

E AGORA?

Este poste precisa de ser redigido com o cuidado de procurar evitar mostrar uma clarividência do autor quanto à evolução da actual crise europeia que ele não teve. Mas, depois do problema das crises europeias se ter propagado da Grécia à Irlanda, a Portugal, a Chipre (de que ninguém fala), sempre considerei que a conduta do governo português parecia ser a mais razoável: portar-se bem, não fazer ondas, porque era previsível que o efeito de contágio iria atingir outros países maiores (Espanha, Itália), o que iria forçar a uma mudança de regras do jogo na União Europeia.
 
Apostava-se nisso porque o liberalismo nos fez esquecer quanto é o poder político que define essas regras do jogo. Na História não se conhecem, porque irrelevantes, as opiniões dos presidentes da Siemens ou da BASF sobre a forma como Adolf Hitler conduzia a política externa da Alemanha nos finais da década de 1930, quando acabou por precipitar o seu país e a Europa na Segunda Guerra Mundial. Mas, escrevia eu, o efeito de contágio haveria de chegar aos países e às economias que, devido à sua dimensão, não poderiam ser socorridas como antes e o caso mudaria de figura.
 
Mas não. A Espanha anda há uns meses a fazer de conta que não está aflita, porque quem a poderia ajudar não sente o problema como aflição sua, enquanto Madrid engole os maiores desaforos de Barcelona e ontem a Moody’s baixou o rating da República Francesa. De Gaulle teria perguntado ironicamente se a Moody’s se tratava de uma empresa de refrigerantes rival da Coca-Cola, mas o seu sucessor François Hollande está condicionado a levá-la com outra seriedade. Mas se a inundação já molha os pés dos franceses evidencia-se que não há pão na casa europeia.
 
E, se eu antecipara que os acontecimentos seriam razoavelmente assim, a situação agora afigura-se-me descontrolada, como um filme que perdeu o script, como se, para recuperar o período histórico usado mais acima, depois da Áustria e da Checoslováquia, a Alemanha tivesse invadido a Polónia e as potências ocidentais tivessem contemporizado uma vez mais*. Depois disto, embora não se sabendo como, apenas resta a certeza que a Europa se irá federar… ou desagregar. Como aconteceu com Cunhal, a vida parece reservar a Mário Soares a amargura de assistir com vida ao desmoronar do seu projecto.
* Em vez da declaração de guerra franco-britânica.

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