Se a história das associações de socialistas e sociais-democratas por um lado com os comunistas ortodoxos por outro está cheia de vicissitudes, onde predominam os insucessos por causa da impossibilidade de combinar a matriz essencialmente democrática dos primeiros com a autocrática dos segundos, o historial que envolve os primeiros e as organizações da extrema-esquerda radical de origem intelectual (marxistas-leninistas-maoistas-trotskistas...) ainda será mais desapontante para quem ainda se encantar com o romantismo dessas convergências à esquerda. As histórias serão menos conhecidas porque mais raras são as organizações extremistas que chegaram a ter alguma relevância social¹. Mas vale a pena recordar o episódio do MIR (Movimiento de Izquierda Revolucionaria) chileno que recusou integrar a Unidade Popular, a coligação de esquerda que conseguiu eleger SalvadorAllende para a presidência do Chile nas eleições de 1970. Nem mesmo assim convergiu, preferindo opor-se-lhe pela esquerda. O derrube e morte de Allende no golpe de estado de Setembro de 1973 tornou a opção do MIR num clamoroso erro táctico e histórico, hoje escamoteado.
Assim, na entrada da Wikipedia em castelhano sobre o MIR (naturalmente mais desenvolvido) pode ler-se sobre esse período que com a chegada ao poder da Unidade Popular e de Salvador Allende, a direcção do partido (MIR) decidiu suspender qualquer tipo de acção armada, ao mesmo tempo que assume uma atitude crítica ao governo e de apoio à organização e mobilização social. Mas desta cuidada redacção dificilmente se percebe que o MIR não só não apoiava o governo de Salvador Allende (considerado um reformista) como o pressionava pelas suas acções radicais. Este é apenas um exemplo, mas considero-o pertinente considerando as semelhanças genéticas do perfil do MIR com organizações como o Bloco de Esquerda. Agora que este terminou a sua convenção sem que houvesse grandes inflexões tácticas na sua potencial política de alianças, só é surpreendente perceber que houve quem esperasse um desfecho diferente do verificado. Mentalmente parece que, por detrás da retórica das convergências, continua a haver o muro de sempre a dividir a esquerda (que já foi do tamanho do Muro de Berlim²) entre a esquerda que é democrática e… as outras.
¹ Recorde-se que em Portugal a UDP nunca conseguiu mais do que 1 deputado em 250.
² Recorde-se que, quando o Muro de Berlim foi construído (1961), a parte ocidental da cidade era governada por um social-democrata, Willy Brandt, e a oriental por outro, Friederich Ebert Junior. No entanto, estes últimos haviam sido aglutinados com os comunistas num só partido (SED) onde os comunistas mandavam.
Conclusão: só há demo-cratas no CDS , PSD e PS... Obrigado pela explivação. Já agora, só falta dizer que Allende foi retirado do poder por "democratas" ( da mesma estirpe dos que atrás refreri)
ResponderEliminarEm resposta à sua conclusão: não só: há democratas independentes, para além dos do PS, PSD e CDS. O que faltou dizer porque não vinha a propósito mas acrescento agora é que há um muro equivalente ao descrito à direita, a separar a direita que é democrática… das outras – onde se inclui a do Pinochet. Se quiser fundamentar as suas opiniões em vez de mandar palpites tentando ser irónico, sugiro-lhe que investigue a forma como o regime militar chileno manietou completamente a actividade dos dirigentes da DC (Democracia Cristã) quando no poder.
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