Hoje apetece-me usar o blogue para o propósito com que eles foram inicialmente concebidos – como um diário. E escrever que hoje não aconteceu nada (embora tenha acontecido e esteja a acontecer muita coisa) em evocação ao que terá escrito o monarca francês Luís XVI para a famosa data de 14 de Julho de 1789. A sua entrada nesse dia em que a Bastilha foi conquistada é mesmo assim, só com uma palavra: nada. Claro que como qualquer boa história da História esta também tem as suas nuances. O seu diário pessoal onde se lê o nada era mesmo isso: pessoal. Abrangia o resultado das suas caçadas nos arredores de Versailles e as cerimónias da sua agenda - como hoje se diria. E disso, naquele dia, nada tinha havido. Aliás, curei-me da capacidade de julgar severamente a capacidade de se julgar a quente a projecção histórica de um acontecimento – e consequentemente a obtusidade de Luís XVI.
Foi há mais de 20 anos, aquando da tentativa de golpe de estado de Agosto de 1991 na União Soviética para derrubar Gorbachov. Via satélite, a Sky News enviava imagens não editadas de colunas militares nas ruas de Moscovo (como as do vídeo acima). A minha previsão era que, considerando a resistência à perestroika das altas hierarquias do partido comunista, os rebeldes iriam ser bem-sucedidos e tomar o poder. A consequência seria um regresso da ordem mundial ao statu quo post bellum e às duas tradicionais superpotências rivais. Porém, enquanto me aplicava a explicar o significado histórico daquelas imagens televisivas a um convidado meu, olhava para os seus olhos – alguém que se considera diferenciado: um médico! – e divisava neles, talvez porque os blindados se alinhavam escrupulosamente em coluna, a compreensão que um boi dedica à passagem de um comboio… O golpe fracassou e nada foi histórico.
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