A página inicial do álbum O Combate dos Chefes de Astérix começa com as imagens do contraste entre duas Gálias: aquela que se havia adaptado ao invasor romano (acima) e a outra que, conforme o famoso slogan que aparecia em todas as introduções dos álbuns de Astérix, resistia ainda e sempre ao invasor (abaixo). Quando da primeira aparição de O Combate dos Chefes (Outubro de 1964), a ocupação alemã da França entre 1940 e 1944 era ainda tão recente que era impossível passar ao lado da analogia. Tratava-se (e ainda se trata...) de um assunto fascinante que René Goscinny preferiu tratar com pinças.
A França sob a ocupação alemã parece ser um assunto que, ainda hoje, está permanentemente em revisão, ao sabor das necessidades propagandísticas da construção europeia. No livro De Gaulle – Pétain, le destin, la blessure, la leçon (de 2010), vim a descobrir toda uma nova perspectiva das várias ligações cúmplices entre os chefes daquelas duas Franças, em que o autor, Frédéric Salat-Baroux, que foi um antigo conselheiro (2000-07) e Secretário-Geral da Presidência sob Jacques Chirac (2005-07), prefere realçar tudo aquilo que os aproximou antes de 1940 ao invés daquilo que os separou depois disso.
Uma declaração de De Gaulle numa Conferência de Imprensa de 1952 (Pétain morrera no ano anterior, confinado a uma condenação a prisão perpétua) marca o teor do livro, uma daquelas afirmações repletas da magnificência ímpar do general: Todo e qualquer francês foi, é ou será gaulista. (...) Até o Marechal Pétain o foi um pouco... Se a primeira afirmação é, ainda hoje, empregue corrente( e incorrecta)mente no léxico político local, a segunda foi rapidamente varrida para debaixo do tapete das inconveniências... Estará a França moderna disposta, como Vichy, a aceitar de novo o seu papel subalterno em relação à Alemanha?
...E tem escolha?
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