17 outubro 2011

TINTIN por STEVEN SPIELBERG

Fazer evoluir as personagens de BD para filme é sempre uma experiência arriscada em que se podem perder os fãs da primeira forma de expressão artística sem que se ganhem outros fãs de igual intensidade e sabedoria na segunda. No caso do filme de Astérix acima, por mais que se esforcem, os romanos não podem ter aqueles traços caricaturais que saíam da imaginação e do lápis de Albert Uderzo. E a violência física, que sempre foi elegantemente sugerida nas pranchas desenhadas, no filme tem que ser mostrada em toda a sua crueza… e inverosimilhança. Em suma, eu adoro a personagem de Obélix, que foi criada ao longo de duas dúzias de álbuns por Goscinny, mas passei o filme a encarar Gérard Depardieu (que o interpreta) como o gajo que ia a um baile de máscaras e acabou ali por engano…
É por causa desses fenómenos que me preocupa como será o próximo aparecimento de Tintin em 3D, cujo lançamento próximo descobri anunciado numa campanha televisiva acompanhando a publicidade ao Peugeot 5008 (acima). A preocupação não é por se tratar de uma realização de Steven Spielberg. É por causa daquela gigantesca máquina que se movimenta à sua volta que, a propósito de Parque Jurássico, até nos conseguiu persuadir que as crianças adorariam os dinossauros, criando uma denominada dinomania à escala mundial com brinquedos, desenhos, adereços, etc., a que os pais, entre o ignorante e o complacente, aderiram. Conhecendo o potencial das 23 Aventuras de Tintin para a produção desse pechisbeque, adivinho um futuro perturbado para as minhas memórias de Tintin…

5 comentários:

  1. Eu também temo o pior ou pelo menos uma coisa mal conseguida.
    A competencia de Spielberg está fora de causa.
    A BD tem uma caracteristica que a diferencia de um romance adaptado ao cinema. Ela própria tem imagem.
    Nos romances escritos é o leitor que constrói, a partir da descrição do personagem,a construção fisica do protagonista.
    Acontece ainda que depois dos autores originais terem morrido, os traços mudam e a "coisa" já não é exactamente a mesma.
    As adaptações que conheço, Asterix, Michel Vaillant, o meu querido Blueberry têm todos o mesmo problema. Os atores e os argumentos não correspondem áquilo que deles se espera.
    O mesmo se pode dizer dos americanos, Super Homem, Homem Aranha, Batman etc...
    Mesmo aquilo que está mais perto, o desenho animado, fica longe dos originais.
    Marshall McLuhan dizia que o "meio é a mensagem" e é bem verdade.

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  2. A mim preocupa-me o idioma. Ouvir as aventuras de Tintin em inglês causa-me alguma celeuma, tão "europeu continental" é o repórter do Petit Vintiéme. Não haverá dobragens?

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  3. Há um pequeno pormenor no seu comentário que, desculpar-me-á, eu não resisto a realçar, João Pedro:
    o facto de ter escrito "Petit Vintiéme" em vez de "Petit Vingtième"...

    Bem pode ter acontecido que o dedo que devia ter carregado no g se atrasou como tantas vezes nos acontece, mas não resisto a especular se não se poderia ter tratado de uma distracção a eliminar consoantes mudas, num idioma que não necessita dessa preocupação porque não está a passar por uma reforma ortográfica?...

    Quanto às suas preocupações, estou consigo. Ouvir o Capitão a praguejar em inglês deve ser um anacronismo...

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  4. Se quiser saber a minha opinião Fernando Frazão, assim, de memória, os únicos heróis da BD franco-belga que refere cuja "consistência" não se altera substancialmente com a mudança dos autores é a dupla "Tanguy & Laverdure" - desenhada sucessivamente por Uderzo, Jijé e P. Serres.

    Claro que há "incursões" que considero satisfatórias - o seu querido Blueberry, por exemplo, é "bem tratado" por William Vance que já tinha alguma experiência do Oeste com Ringo - mas os "outputs" não são bem a mesma coisa que os originais...

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