27 outubro 2011

O «DÍFICIL» ENTERRO DOS MÁRTIRES

Há cerca de cinco meses, uma alargada equipa de peritos procedeu à exumação dos restos mortais de Salvador Allende para determinar a causa e a forma como morreu o presidente chileno durante o golpe de estado que o depôs a 11 de Setembro de 1973 (acima). A ocasião foi aproveitada pela comunicação social para repescar a controvérsia quanto às circunstâncias em que ocorrera a sua morte (abaixo).
Os resultados dessa investigação, realizada a pedido e com a concordância da própria família Allende, tornaram-se públicos uns escassos dois meses depois, em Julho passado: o presidente suicidara-se com uma AK-47, foi a conclusão unânime dos membros da equipa de investigação. Mas, mal se deu por ela… Parece mais do que óbvio que este é um exemplo clássico de que só é notícia quando é o homem que morde no cão.
Ontem, David Pryor, um dos especialistas que integrou aquela equipa esteve em Lisboa a proferir uma palestra a respeito desse seu trabalho no Chile. Digite-se o seu nome nas notícias do Google hoje (em português) e encontrar-se-á... nada. Certamente que não haverá interesse nenhum em saber-se como se comprovou definitivamente que Salvador Allende não fora assassinado pelos militares fascistas. Pensando nos mais obcecados com a Causa, até se pode dizer que é uma pena que não tivesse sido assim...
De há uma década para cá, Salvador Allende e o aniversário do golpe de estado no Chile reapareceram em força todos os anos para fazer um barulho alternativo ao do aniversário do ataque ao WTC. E são episódios como este que aqui acabei de narrar que mostram como a preocupação que se nota tanto por aí em evocar a efeméride chilena não passam afinal de exercícios de oportunismo e hipocrisia política…

4 comentários:

  1. É claro que Allende não foi assassinado pelos fascistas, coitadinhos, que não têm culpa nenhuma na morte dele. Matou-se sabe-se lá porquê, ninguém sabe ao certo, devia estar a ouvir o chato do Berlioz e apeteceu-lhe experimentar juntar-lhe o som de uma AK-47 bem juntinha ao ouvido.

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  2. Mas concorda comigo que teria sido muito mais convenientemente trágico se tivessem sido os fascistas a matá-lo, não é verdade?

    Assim como - aí os comunistas - fizeram com Imre Nagy na Hungria? Ou não sabe quem foi esse?

    Tem piada que por estes mesmos dias de finais de Outubro se comemoram os 55 anos desses "eventos" e há um certo tipo de malta que não tem memória e os que a têm, têm-na muuuuito selectiva...

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  3. Os fascista de Pinochet foram uns inocentinhos, claro, e nós dois somos uns formidáveis adivinhadores de coisas passadas. Recorda-se de Victor Jara? Aposto que se tivesse uma AK-47 talvez não lhe tivessem decepado as mãos em vida.
    Nagy? Morto pelos social-fascistas do Kremlin. Isso prova exactamente o quê?
    O Mundo não é a preto e branco, nem há apenas índios e cobóis, há malta de memória selectiva em todos os quadrantes.

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  4. Ele há de todos os quadrantes mas tropeça-se sempre em gente do mesmo quadrante. Mesmo quando finge que não é... Explique-nos lá essa coisa do social-fascismo?...

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