01 outubro 2011

67 ANOS DEPOIS: UMA ÚLTIMA BAIXA DA OPERAÇÃO OVERLORD

Recentemente comprei o livro que aparece na imagem acima: Operação OVERLORD, o Dia D e a Batalha da Normandia 1944 do historiador britânico Max Hastings. Foi um gesto raro porque a escassez das versões traduzidas de livros acerca daqueles temas combinada a minha sofreguidão em os adquirir faz com que a maior parte dos livros relacionados que possuo estejam nas versões originais. É por isso que, sobre este tema do desembarque da Normandia em 1944, na minha estante, apenas O Dia Mais Longo (1959) de Cornelius Ryan está escrito em português. Outros, como Six Armies in Normandy (1982) de John Keegan, Histoire du débarquement en Normandie (2007) de Olivier Wieviorka ou ainda D-Day (2009) de Antony Beevor estão escritos nos idiomas dos seus autores.

Compreender-se-á que não estivesse à procura de novidades quando adquiri este livro, para mais quando ele foi escrito por Max Hastings já em 1984. Enganei-me: o livro está repleto de novidades, embora Hastings seja alheio ao facto e tenha que as agradecer à contribuição da tradutora Isabel Veríssimo. Exemplos: há um tenente alemão que recebeu uma condecoração chamada Knight´s Cross (sic, em inglês no original, p. 139), aparecem unidades completamente novas na ordem de batalha como a 22ª Divisão dos Dragoon Guards britânica (p.138), a 65ª Divisão de Artilharia Blindada norte-americana (p. 142) ou a 1716ª Divisão de Artilharia alemã (p. 130), demonstrando que quem traduziu o livro terá uma compreensão histórica do tema idêntica às minhas sobre normas ISO para a edificação de aviários.

Para aqueles leitores deste blogue menos entendidos sobre essas matérias esclareça-se que a tradutora (e o revisor) percebem tanto do assunto quanto eles. Para além dos disparates acima citados, que são fruto da ignorância das designações e dimensões das várias unidades militares (batalhão, regimento, brigada, divisão), há outros casos em que, porque feitos por uma ignorante, tornam-se ridículos, como é o caso do 325º Batalhão de Planadores de Infantaria (p. 267, na verdade trata-se do 325th Glider Infantry Regiment), tradicionalmente traduzido para 325º Batalhão de Infantaria Aerotransportada, já que o principal da unidade são os soldados de infantaria que, neste caso, são transportados em planadores. Um batalhão de planadores dá a entender que os planadores (abaixo) são os aviões de combate…
Não são. Suponho que não preciso de me alargar mais para provar que a edição deste livro, da responsabilidade da casa das letras, é uma vergonha. Escrevo isto depois de ler um poste em que alguém que creio ligado à actividade editorial comenta o facto de se ter tornado comum que as figuras públicas, quando solicitadas a mencionarem o que estão a ler de momento, citarem maioritariamente livros em inglês, atribuindo esse gesto a um certo pretensiosismo intelectual, para mais quando os livros citados têm edições em português. Não descarto essa hipótese, creio que cada caso será independente do anterior: aqui me confesso numa abordagem precisamente inversa à dessa tendência da moda, leitor de livros em inglês atrevi-me a fazer uma experiência comprando uma tradução - para me vir a arrepender…

Também não se pode esquecer o aspecto económico desta questão dos livros originais versus as traduções para português. O livro que comprei custou-me 26 € e na Amazon a versão original está à venda por 8,99 £, i.e., sensivelmente metade do preço que paguei. Será lícito concluir que houve 13 € que corresponderão à comodidade de o ler na minha língua materna. Por acaso, o trabalho de tradução é uma merda. Paciência, acontece. O que me intriga é o facto de ainda não ter conseguido encontrar nenhuma crítica a respeito deste livro que fale da sua miserável tradução. É um mistério que a autora do poste, certamente mais inteirada desse mundo da edição e da crítica editorial, talvez me pudesse esclarecer… É que suspeito que os que nomeiam pretensiosamente os livros em inglês copiam outros que os nomeiam fundamentadamente (como acontecerá neste caso) porque o mundo da edição em Portugal não escrutina devidamente os seus trabalhos de tradução.

5 comentários:

  1. Toda a minha vida trabalhei em informática o que me deu, aparte a formação académica no liceu, e a par de uma carreira internacional como representante português em vários comités, uma estaleca em inglês bastante, diria, interessante.
    "Nevertheless" as minhas "skills" na língua não são suficientes para ler os autores, que me interessam no original.
    Roth, Delillo, Below, Updike, Proulx, Macwean, Rushdie, Naipul, Amis (pai e filho), Cormack, Becket e Proust (estes em francês), são já suficientemente dificeis em português quanto mais na língua original, já não citando os que não escrevem nesta língua.
    Esta questão deixa-nos nas mãos dos tradutores.
    Tenho lido muito boa coisa e muito boa merda.
    Tirando as "enormidades" que cita, que são fruto de pura incompetência/ desleixo, de uma maneira geral, respeito bastante a profissão de tradutor que, muitas vezes, são confrontados com peças de tradução, ou será translação (?), dificilima.
    Lembro-me da introdução do tradutor ao Meridiano de Sangue de Cormac Maccarthy (Este pais não é para velhos)onde descrevia o trabalho insano que teve ao longo de três anos, com contactos sucessivos com o autor, de modo a tentar perceber o que ele queria e dizia.
    Como se traduz Lobo Antunes para sueco?

    ResponderEliminar
  2. Toda a minha vida trabalhei em informática o que me deu, aparte a formação académica no liceu, e a par de uma carreira internacional como representante português em vários comités, uma estaleca em inglês bastante, diria, interessante.
    "Nevertheless" as minhas "skills" na língua não são suficientes para ler os autores, que me interessam no original.
    Roth, Delillo, Below, Updike, Proulx, Macwean, Rushdie, Naipul, Amis (pai e filho), Cormack, Becket e Proust (estes em francês), são já suficientemente dificeis em português quanto mais na língua original, já não citando os que não escrevem nesta língua.
    Esta questão deixa-nos nas mãos dos tradutores.
    Tenho lido muito boa coisa e muito boa merda.
    Tirando as "enormidades" que cita, que são fruto de pura incompetência/ desleixo, de uma maneira geral, respeito bastante a profissão de tradutor que, muitas vezes, são confrontados com peças de tradução, ou será translação (?), dificilima.
    Lembro-me da introdução do tradutor ao Meridiano de Sangue de Cormac Maccarthy (Este pais não é para velhos)onde descrevia o trabalho insano que teve ao longo de três anos, com contactos sucessivos com o autor, de modo a tentar perceber o que ele queria e dizia.
    Como se traduz Lobo Antunes para sueco?

    Continuamos com a saga do Blogguer?

    Fernando Frazão

    ResponderEliminar
  3. Pelos vistos a saga continua.

    Não sei se é apenas aqui que está a ter problemas em publicar os seus comentários, mas posso assegurar-lhe que, até agora, entre os outros comentadores recentes deste blogue (não sendo muitos já são mais outros 4) é o único a registar o problema.

    ResponderEliminar
  4. Quanto ao enquadramento daquilo que aqui escrevi, ele surge um pouco como reacção ao poste para onde faço a ligação, onde me pareceu que a sua autora começou por "chutar para canto" o problema das péssimas traduções de alguns livros.

    Os exemplos que dá no seu comentário são de autores de ficção. Aceito que, antes e depois de editado, possa existir sempre controvérsia no resultado de um trabalho de tradução de um livro com essas características.

    O meu exemplo do livro da Overlord que ainda tenho entre mãos é de não ficção - aliás, não empreguei qualquer subjectividade para qualificar aquele trabalho de tradução de medíocre... Numa editora de jeito com uma revisão de jeito uma coisa daquelas nem devia ter ido para a tipografia...

    ResponderEliminar