18 maio 2011

FABIENNE – ATÉ ONDE UMA HISTÓRIA INTERESSA…

No Mundo da informação é fundamental traçar a diferença entre as histórias que geram as fotografias e as fotografias que geram as histórias. Estas fotografias pertencem ao segundo grupo; a de cima, da autoria do fotógrafo Paul Hansen, foi premiada na Suécia e a de baixo, de Lucas Oleniuk, foi premiada no Canadá, ambas no meio de uma igual controvérsia por causa das circunstâncias (idênticas) em que foram obtidas.
A 12 de Janeiro de 2010, Port au Prince, a capital do Haiti, foi quase toda destruída por um violento terramoto. Estima-se que ele tenha provocado umas 200 mil mortes. Mas a morte mais gráfica daquele enorme acidente (se atendermos à difusão do circo informativo mundial) não foi provocada directamente pelo terramoto, mas antes pelas medidas de excepção que se costumam decretar nessas situações de grandes catástrofes…
Numa acção para dissuasão dos saqueadores, a polícia haitiana abateu a tiro uma adolescente de 15 anos chamada Fabienne Cherisma quando esta transportava duas cadeiras de plástico e três quadros emoldurados. O enquadramento das fotografias acima, onde se podem ver os outros saqueadores em actividade, totalmente indiferentes à acção de dissuasão da polícia haitiana são uma cruel acusação à posteriori da gratuitidade do gesto.
Mas rode-se agora um pouco o enquadramento das fotografias (acima) e perceba-se como (como é costume) todas estas fotografias que geram histórias, tendo vítimas, não têm heróis, com os fotógrafos agachando-se como se fossem um bando de abutres junto ao cadáver de Fabienne… Mesmo a história da dor de um pai que vem recolher o cadáver da filha (abaixo) terá parecido complexa demais para a sofisticação do fotojornalismo moderno…

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