
Se tivesse vivido nos tempos da república romana estou convencido que Mário Soares seria, como Júlio César, indiscutivelmente um membro do partido popular, embora também não abdicasse, como ele, da sua
pose de membro da aristocracia senatorial,
pairando acima do povo. Num caso e noutro, houve ao longo das respectivas carreiras políticas uma gestão inteligente da imagens públicas, para dar aos eleitorados uma aparência de intimidade entre o político e o povo que nunca existiu realmente. As pequenas fraquezas do político podiam ser conhecidas, como o
espalhanço de César quando ele tropeçou na prancha à saída do barco que o desembarcava em África
¹ ou outros epísodios menores das suas campanhas militares. Ou também as fotografias caricatas de Soares
em cima de um elefante ou
às costas de uma tartaruga, que eram tratadas como se fossem sinais da sua
bonomia. Porém, em Roma, muito poucos saberiam que César era epiléptico. Ou então as fotografias de Soares que fossem mais do que caricatas, consideradas prejudiciais para a sua imagem (como a de cima em que eram realçadas as suas famosas
bochechas – afinal, a alcunha
genuinamente popular por que ele era então conhecido) eram discretamente
abafadas, a ponto de hoje estarem completamente
esquecidas.
¹ O
episódio serviu para mostrar o sangue-frio de César que, perante um episódio de mau augúrio, reagiu fingindo que se atirara para o chão de propósito para o beijar, anunciando-o em voz alta enquanto ainda estava caído.
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