Aquilo que me ocorre quando acabo de ler um livro como o Moçambique 1974 – O Fim do Império e o Nascimento da Nação, é a necessidade de ter lido ou de vir a ler outros sobre aquele mesmo tema e período porque, ao contrário do que anuncia uma sua sinopse, a prodigiosa sucessão de acontecimentos da História comum de Moçambique e Portugal nos anos 60-70 tem aqui uma imagem viva mas muito longe de objectiva. A vasta consulta de arquivos foi tão selectiva que provocou distorções inaceitáveis na referida História comum. Mas o que mais me incomoda nestas narrativas nem é a sua parcialidade, aquilo que é omitido ou a inverosimilhança do que na maioria das vezes é lá relatado...
O que parece separar radicalmente a nossa forma de estar da dos nacionalistas africanos são as demonstrações por parte destes últimos de uma subserviência ao poder¹ que a nós, portugueses, não só nos são alheias, como até passam por reprováveis quando se pretendem escrever algo que se considere objectivo. Por exemplo, Joaquim Chissano, que foi o segundo, e Armando Guebuza, que é o terceiro presidente da República de Moçambique (e que são normalmente assim designados), são repetida e deferentemente referidos ao longo do livro por Joaquim Alberto Chissano e por Armando Emílio Guebuza... Mais sintomático dessa subserviência é a legenda da fotografia abaixo, retirada do referido livro…
Como esclarece a legenda, trata-se de uma cerimónia de deposição de uma coroa de flores na campa de Eduardo Mondlane, o primeiro presidente da FRELIMO. Quem depõe as flores é Rui Nogar e, numa fotografia, normalmente identificam-se as pessoas da esquerda para a direita, no mesmo sentido do da leitura. Mas não se trata de uma regra rígida. Ali por deferência para com Samora Machel (sucessor de Mondlane e também primeiro presidente de Moçambique) que está no lado direito, podia apresentar os restantes presentes a começar por ele e por essa ordem inversa, assinalando-o. Mas não: identifica Machel e depois regressa à regra tradicional – Jorge Rebelo acaba por ser o que lhe está mais próximo...
Como esclarece a legenda, trata-se de uma cerimónia de deposição de uma coroa de flores na campa de Eduardo Mondlane, o primeiro presidente da FRELIMO. Quem depõe as flores é Rui Nogar e, numa fotografia, normalmente identificam-se as pessoas da esquerda para a direita, no mesmo sentido do da leitura. Mas não se trata de uma regra rígida. Ali por deferência para com Samora Machel (sucessor de Mondlane e também primeiro presidente de Moçambique) que está no lado direito, podia apresentar os restantes presentes a começar por ele e por essa ordem inversa, assinalando-o. Mas não: identifica Machel e depois regressa à regra tradicional – Jorge Rebelo acaba por ser o que lhe está mais próximo...
¹ Exemplo de parágrafo da página 326: Samora Machel aproveita a presença da informação moçambicana para, pela primeira vez, se reunir com os jornalistas. Se muito já estavam conquistados com o combatente, essa conversa frontal permitiu-lhes ficarem fascinados com a sua personalidade, carisma e charme. No seu regresso transmitem essa imagem. Não era um sanguinário, racista, inculto, como a propaganda colonial o fazia crer. Pelo contrário, era o homem de que o país precisava.
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