02 julho 2015

« – THEY HIRED THE MONEY, DIDN’T THEY?*»

Calvin Coolidge (1872-1933) foi o 30º presidente (republicano) dos Estados Unidos (1923-1929), uma presidência em tempos de crescimento económico – que vieram a ser enquadrados no espírito dos famosos anos Vinte. Num ambiente político considerado então irreverente quando em comparação com o europeu, Coolidge havia adquirido mediática e socialmente a alcunha – simpática – de Silent Cal (Cal – abreviatura de Calvin – Silencioso) por causa do seu laconismo quando em sociedade. Torna-se por isso irónico vê-lo acima, protagonizando um primeiro filme sonoro estrelado por um presidente, onde ele lê um soporífero discurso nos jardins da Casa Branca com um empenho que mostra o que era a cenografia da política há 90 anos: seria impossível um Silent qualquer coisa ter cabimento na política a partir da década de 1950. Mas as críticas mais sérias a Calvin Coolidge vieram a centrar-se na passividade da sua administração perante as transformações que o Mundo sofrera e sofria antes e durante os seus mandatos. Para a prosperidade norte-americana, baptizada convenientemente à época de Coolidge prosperity, contribuía o reembolso dos empréstimos que o país concedera aos outros beligerantes da Grande Guerra de 1914-18. As reservas-ouro dos Estados Unidos, avaliadas em 1.800 milhões de dólares em 1919, haviam passado para 4.500 milhões em 1928, embora os devedores se lamentassem da  rigidez das condições impostas e do proteccionismo aduaneiro norte-americano. Foi nessas circunstâncias que um presidente reputado por fazer pouco e por falar pouco se terá notabilizado ao colocar a pergunta (retórica) que é o título deste poste: - Eles pediram o dinheiro emprestado, não pediram? Aparentemente, a frase será apócrifa mas foi a própria viúva Grace (1879-1957) a validá-la, comentando que, se não a disse, o marido podê-lo-ia muito bem ter feito dado que o seu conteúdo correspondia ao que ele pensava sobre o assunto. Mas a frase só se veio a popularizar 20 anos depois dos mandatos de Coolidge, quando os Estados Unidos haviam regressado à Europa para travar uma nova guerra e emprestar novas bateladas de dinheiro durante – e agora também após – a Guerra. Com programas muito mais flexíveis de reembolso para poderem ser reembolsados. Durante décadas, a frase terá sido repetidamente citada como exemplo de uma certa estreiteza de espírito incompatível com quem queira ter pretensões hegemónicas. Como um sinal da demissão pelos Estados Unidos de um papel estratégico à escala Mundial que (já) só podia ser seu depois de 1918. Talvez com uma certa injustiça porque não pode haver certezas que uma outra conduta da administração Coolidge pudesse ter condicionado a evolução da Europa num outro sentido diferente da Segunda Guerra Mundial. Mas o que me tem impressionado mais recentemente e a propósito da Crise da Grécia é como frases de sentido muito semelhante à (pretensa frase) de Calvin Coolidge têm sido profusamente repetidas sem que quem as profere pareça ter dúvidas sobre o alcance do que diz por não parecer ter ouvido falar de um Calvin Coolidge... ou de um George Marshall.

* ELES PEDIRAM O DINHEIRO EMPRESTADO, NÃO PEDIRAM?
 

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