O Tratado de Brest-Litovsk foi assinado em 3 de Março de 1918. Com ele a Rússia reconhecia a sua derrota na Primeira Guerra Mundial diante da Alemanha. Na fotografia acima é muito fácil identificar qual o lado dos vencedores e qual o dos vencidos. Depois da revolução bolchevique de Novembro de 1917, estes haviam intentado arranjar um modus vivendi com a Alemanha e os seus Aliados. Havia-se assinado um armistício em 15 de Dezembro de 1917 e Trotsky fora nomeado chefe da delegação russa em Janeiro de 1918 com as instruções de deixar arrastar as negociações, prolongando um status quo que ele veio a celebrizar na fórmula: nem guerra, nem paz. Sem um dispositivo militar no terreno digno desse nome, os russos consideravam-se a ganhar enquanto conseguissem manter os alemães à mesa das negociações. A delegação alemã, encabeçada pelo General Max Hoffmann, era, porém, de uma diplomacia musculada sem disposições para contemporizar com esses expedientes revolucionários; em 10 de Fevereiro haviam rompido as negociações e uma semana depois haviam lançado uma ofensiva militar que deixava os russos numa posição militarmente mais frágil. As condições impostas pela Alemanha a 23 de Fevereiro de 1918, e que os russos tiveram de aceitar, foram, por isso, piores do que as que se apresentavam em cima da mesa no princípio do mês e também será por isso que, na fotografia inicial da assinatura do Tratado, é já uma figura secundária (Chicherin), que preside (do lado direito) à delegação russa (Trotsky desapareceu).
Como o vestuário e a mota de Varoufakis, também Trotsky tinha um sentido agudo da estética fotográfica que o favoreceria, como se vê nesta fotografia à saída do comboio que o havia levado até às negociações, onde aparece ao centro, paisano e casual, mas o polo da atenção de uma colecção de generais inimigos envergando os seus capacetes de cerimónia (os pickelhaube). Mas as analogias entre a situação com que outrora se defrontavam os russos e hoje se defrontam os gregos são muito bem capazes de não se ficarem apenas pelo charme dos protagonistas revolucionários: a) há a desproporção de forças entre as partes, que nos leva a desconfiar que, no imediato e se as quiserem aceitar, também os gregos vão ter que amargar condições muito severas; b) há a constatação que as negociações em causa são apenas uma parte de um problema estratégico muito mais global – a vitória na Primeira Guerra Mundial em 1918 e o destino da União Europeia em 2015; e c) há a coincidência de que, em ambos os casos, a parte mais fraca pode estar a corroer ideologicamente o adversário, apesar de mais poderoso, para um possível colapso de data imprevisível. É por isso que, quando li no passado Domingo alguns analistas mais eruditos a digerirem a azia do resultado do referendo grego recuperando no contexto a expressão vitória pírrica, lembrei-me que, com outro distanciamento, a situação na Europa se apresenta tão fluída que não se pode excluir que o nosso léxico no futuro não venha a ser enriquecido com uma expressão simétrica dessa: derrota tsíprica.
Afinal, reconheça-se que praticamente nada sobrou das consequências de Brest-Litovsk a partir do momento em que o confronto estratégico principal – a Primeira Guerra Mundial – foi resolvido em Novembro de 1918.
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