01 julho 2015

OS PRÉMIOS E OS PREMIADOS. COMO A IMPORTÂNCIA DE UNS INTERFERE NA IMPORTÂNCIA QUE TENDEMOS A ATRIBUIR AOS OUTROS

Há prémios que são importantes e há pessoas que são importantes. Mas nem sempre são as pessoas importantes a receberem os prémios importantes, o que leva a ter de se fazer opções editoriais. Como o de saber se se dá mais destaque a um prémio importante conferido a uma pessoa não importante ou a um prémio não importante conferido a uma pessoa importante. E isto ultrapassando os casos de prémios importantes concedidos a pessoas importantes, que nem sempre são despojados de controvérsia, como a priori se poderia pensar: lembre-se o caso do Prémio Nobel da Paz concedido a Barack Obama em 2009 que o próprio laureado considerou imerecido. Em contraste, não costumamos ter opinião formada quando um prémio importante é concedido a alguém que o não é. E é opinião daqueles encarregues de a formar (à opinião) que não é interesse daqueles a quem se dirigem enriquecê-los com uma opinião muito desenvolvida sobre o galardoado. Se já o conheciam é importante, se não o conheciam, não é por causa do prémio que o vão passar a conhecer. É uma atitude fundamentada: actualmente quase todos se esqueceram como se chamava a vencedora do Prémio Nobel da Literatura no ano em que Obama recebeu o da Paz (Herta Müller) e nem se fale dos da Medicina, Física, Química ou Economia que agora têm o defeito de vir quase sempre aos pares e triplas, baralhando-nos. Caso diametralmente oposto acontece quando é alguém importante a receber um prémio não importante. Aí costuma notar-se um esforço concertado dos formadores de opinião em robustecer o prestígio do galardão. Nesse mesmo ano de 2009, por exemplo, Durão Barroso recebeu um prémio alemão chamado Quadriga que foi preciso explicar em que consistia e qual a sua importância. Só que entretanto o galardão, que era atribuído anualmente, já desapareceu.

Normalmente há uma forma objectiva de aferir qual a sinceridade da promoção e qual é o real prestígio do galardão independentemente da importância de quem o recebe: verificar como foram noticiadas em ocasiões anteriores a concessão do mesmo prémio. Assim, por exemplo, quem foram outros galardoados com o grammy Lifetime Achievement Award da Latin Academy Award que, no ano passado e por esta altura, foi atribuído a Carlos do Carmo? Porque é que este ano não se ouviu a comunicação social referir-se ao seu sucessor? Parece-me que terá sido uma enorme honra para o fadista, mas suspeito que as notícias a esse respeito tenham sido talvez um pouco empoladas. Há um caso particular em que este exercício não se consegue realizar: quando é a primeira vez que um prémio é concedido e o é logo a uma pessoa importante. Como o avaliar? Aconteceu recentemente com Jorge Sampaio, que recebeu um prémio da ONU a que foi dado o significativo nome de Nelson Mandela. A notícia era notícia porque o prémio era importante e o premiado importante, ou era apenas o premiado que era importante? Ajudou-me à resposta o facto de o prémio ser atribuído paritariamente a um homem e uma mulher, neste segundo caso a galardoada a par de Sampaio foi uma médica oftalmologista namibiana chamada Helena Ndume. Em comparação com a forma como a atribuição foi noticiada em Portugal, valeu-me a pena ler como ela foi noticiada na Namíbia: por eles Sampaio ganhou o prémio por ter sido... Jorge Sampaio. Finalmente, há os casos dos prémios pouco importantes ganhos por pessoas pouco importantes. Esses ficam para o professor Marcelo os anunciar apressadamente ao Domingo na TVI lendo as notas que leva enquanto a Judite Sousa o incentiva a despachar-se dizendo: oh professor, olhe que já só temos mais três minutos!.

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