19 julho 2015

FENÓMENOS DE OUTRAS ÉPOCAS – 2


Tanto quanto o grego Aléxis Tsípras, também o húngaro Viktor Orbán é outro dos primeiros-ministros detestados pelo aparelho europeu que dirige a Europa. Embora o seja por razões completamente distintas: a Hungria não aderiu ao Euro e o partido Fidesz pertence ao outro extremo do espectro político. Não possui o mesmo género de simpatias nas redes sociais que o Syriza recolhe mas a sua legitimidade política nacional, assente em duas maiorias eleitorais (2010 e 2014), é até superior. O que pôs a Hungria nas bocas da Europa foi a sua decisão recente de construir um muro na fronteira com a Sérvia, para travar a imigração de refugiados vindos do Próximo Oriente e de África. Reconheça-se que, como dispositivo, há-de ter uma eficácia muito duvidosa. Mas é uma decisão legítima para tentar estancar um fluxo que, como se vê sobretudo em Itália mas também em outros países do flanco sul da União Europeia (Espanha, Grécia, só não somos nós porque a geografia nos separa de Marrocos), está muito longe de ter solução e/ou de movimentar a tão propalada solidariedade europeia. Que se revela muito mais verbal do que efectiva. É por isso que eu vejo com alguma perplexidade algumas manifestações dos últimos dias, condenando a decisão dos húngaros com um enfâse inesperado – veja-se, apenas para exemplo, o caso de António Vitorino aos microfones da RR. O passado próximo (+ 25 anos) mostra porém quanto o húngaro médio dominará o assunto muito melhor do que aqueles prestigiados opinadores, já que conviveram intimamente com fronteiras assinaladas por muros e cercas - abaixo, lembre-se a fotografia assinalando o corte da que protegia a Hungria da Áustria em 27 de Junho de 1989. Claro que havia a substancial diferença de, em vez da imigração de estrangeiros, esses muros se destinarem a conter a emigração de húngaros... Mas o que verdadeiramente lamento é faltar-me a memória para recordar se Vitorino e outros tantos destes indignados recentes exibiam naquela época nos media idêntica veemência na condenação desses outros muros desses outros regimes.

Sem comentários:

Enviar um comentário