Encontrei outro dia este Top das melhores composições de música pop anglo-saxónica do já longínquo ano de 1966. Foi elaborado a partir das votações dos nove colaboradores de então daquele que viria a ser um celebrado programa radiofónico chamado Em Órbita. Vivendo-se em plena época da beatlemania não surpreende que no primeiro lugar tivesse ficado uma composição sua, Eleanor Rigby, escolha que foi devidamente justificada aos microfones do programa: «Um conjunto quase perfeito de melodia, vocalização, instrumentação. Um tema actual, sentido universalmente, dito em versos lapidares, quase cruéis, fazem dela uma gravação válida, uma afirmação e uma opinião.»
Reforçando a impressão de intelectualidade vanguardista sugerida pelo teor da explicação supra, regista-se que não aparece mais nenhuma canção dos The Beatles nas restantes 14 canções do Top e isso apesar da banda ter editado naquele ano o álbum Revolver. Significativamente, o painel elegeu para o segundo lugar Dead End Street dos The Kinks, uma música também com predicados, quiçá outra mensagem marcante, válida, afirmativa e opinativa. Azar o dos jurados de 66 que as gerações que lhes sucederam não lhe terão prestado – à mensagem dos Kinks – a atenção que eles antecipavam e que Dead End Street esteja hoje - quando comparada com as músicas que a precedem e sucedem - praticamente esquecida.
Mas o mais colossal erro de previsão do sofisticado júri ficará para o fim, para aquilo que foi então qualificado como a pior gravação do ano, assim descrita: «Uma melodia vulgar, a que se acrescentou uma letra de péssimo gosto, de intenções duvidosas, poeticamente mal construída, feita para agradar a espíritos anestesiados.» As opiniões a respeito de música, sobretudo se são colectivas, já então eram absolutamente livres (apesar do Salazar), mas isto de andar a fazer profecias sempre foi mesmo muito complicado...
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