Comprovando que a nossa percepção de fazer parte da União Europeia é ténue e que quase nada sabemos sobre ela, a não ser aquilo que os aparelhos informativos decidem destacar, aposto que 99 em 100 leitores deste blogue não reconhecerão o senhor da fotografia acima. Chama-se Viktor Orbán e é, desde Maio de 2010, o chefe do governo da Hungria. Daquelas paragens longínquas, reconhecer-se-ia Antónis Samarás, o chefe do governo grego, mas isso será porque a Grécia, esse outro parceiro europeu, se porta mal e sabe-se como é canónico quanto nós não queremos ser como a Grécia. Porém, quem quiser investigar, descobre que Viktor Orbán também governa um país que teve de se submeter às condições de uma intervenção de emergência (25 mil milhões de dólares) do FMI, Banco Mundial e União Europeia e também se tem portado bastante mal: as relações entre o governo de Viktor Orbán e a comissão de Durão Barroso têm sido, para colocar o assunto de uma forma benigna, algo complicadas. Há mesmo fotografias de manifestantes pró-europeístas húngaros que ostentam cartazes (em inglês) pedindo desculpa pelo seu primeiro-ministro.
Porém, a maioria dos húngaros não pensa assim. As eleições que tiveram lugar na semana que findou na Hungria – e que, por acaso, quase não se deu informativamente por elas – produziram a recondução da coligação no poder recolhendo 44,5% dos votos. Pelos vistos, o autoritarismo nacionalista de Viktor Orbán terá o beneplácito dos húngaros, um fenómeno tanto mais de realçar nesta época em que os governos europeus de todos os países afectados pela crise financeira têm sido derrubados consecutivamente, quais pinos de bowling. Mas há pior, para quem analise os resultados eleitorais duma perspectiva europeísta: a coligação vencedora de Orbán ocupa agora o centro de uma geografia eleitoral que apresenta, para além dos 26% de uma esquerda clássica mais conforme as directivas de Bruxelas, uma extrema-direita que recolheu 20,5% dos votos e que quer ir mais além do autoritarismo nacionalista de Orbán. Sempre é interessante apercebermo-nos pelo que se passa nas redondezas, de como pode haver outras direitas reformistas que não são subservientes ao exterior. E com um sucesso eleitoral de fazer a inveja da nossa coligação no poder.
A notícia das eleições na Hungria foram mostradas à pressa, o que devia ser caso para admirar: afinal de contas, nos últimos anos muito se tem falado do governo do Fidesz (sobretudo de forma crítica) e o relatório do Parlamento Europeu sobre as medidas do executivo húngaro não conformes ao direito comunitário até é da autoria de um eurodeputado português, rui Tavares (cujo apelido Órban, num discurso, usou para fazer um trocadilho com a palavra "tovarich"). Quanto ao Jobbik, faz com que a Frente Nacional francesa passe por sum simples partido centrista.
ResponderEliminarÉ mesmo uma chatice quando o "pessoal" vai votar e em liberdade não vota da maneira que "a gente" quer...
ResponderEliminarMas onde eu não quis chegar nestes comentários à reeleição de Orbán foi à pergunta se haverá no PSD alguém com a capacidade de especular no que teria sido o percurso do partido e de Portugal se, em vez de Passos Coelho, se eles tivessem apostado em Rui Rio e num estilo de governo mais autoritário mas também menos "vergável" aos interesses instalados.
Embora isso agora seja uma especulação teórica, como se vê pelo exemplo de Orbán, o povo, aquele que vota, às vezes gosta disso...