A campanha de 1814 que Napoleão travou no seu próprio país e em defesa da sua própria capital Paris é uma daquelas campanhas da História Militar que, como a Teresa Guilherme se apressaria a qualificar na sua frescura borbulhante televisiva: agora isso não interessa nada. E não interessaria porque o seu desenrolar demonstra, com uma total falta de romantismo militar, que contra o peso dos batalhões não há ciência militar que resista – nem sequer o indisputável génio táctico de Napoleão Bonaparte. Esta foi uma campanha que, anormalmente para o que eram os costumes da época, se desenrolou no pino do Inverno (imagem abaixo, entre Janeiro e Abril de 1814). E foi assim porque era intenção dos Aliados (prussianos, russos, austríacos, conforme as bandeiras do lado direito do mapa acima) atacar o exército imperial antes que este se pudesse reorganizar e reabastecer com a Primavera seguinte.
Era intenção contrária de Napoleão Bonaparte impedir que os vários exércitos invasores se coordenassem e concentrassem, para constituírem uma massa crítica de quase meio milhão de soldados e respectiva artilharia que os restos do seu próprio exército nunca conseguiria derrotar em qualquer grande batalha. Como se pode ver pelas bandeirinhas do mapa inicial ainda se registaram uma colecção de várias pequenas vitórias tácticas francesas (Brienne, Champaubert, Montmirail, Montereau, Laon) intercaladas de algumas outras pequenas derrotas (La Rothière (imagem acima) ou Bar-sur-Aube) mas que não impediram que a 30 de Março, a concentração se tivesse realizado e os soldados franceses tivessem de se bater numa desproporção de 1 para 5 ou 6 aliados ao defender a sua capital quando da Batalha de Clichy (abaixo) – hoje integrada na cidade, Clichy ficava em 1814 ainda nos arrabaldes de Paris.
Nesse dia, na corrida pela conquista da capital do inimigo, os exércitos das três grandes potências continentais mais reaccionárias, Áustria, Prússia e Rússia, conquistaram Paris em antecipação aos do concorrente britânico. Os cavaleiros cossacos desfilaram em parada, vitoriosos pelas ruas de Paris (abaixo), um feito de armas que, mesmo Estaline não se esqueceria de evocar quando, 131 anos mais tarde, no final da Segunda Guerra Mundial, o felicitavam porque os seus exércitos tinham acabado de conquistar Berlim, no centro da Europa. Expulso da sua capital sem que todos os seus exércitos inimigos tivessem ainda entrado em linha (era o caso do britânico, com os contingentes portugueses e espanhóis, e também do sueco), Napoleão teve que se resignar à abdicação: aceitou os termos do Tratado de Fointanebleu a 13 de Abril de 1814, há precisamente 200 anos.
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