29 abril 2014

A DESCOBERTA E A COLONIZAÇÃO DA MADEIRA


Como se vê acima pelo filme da descolagem da Apollo XV em Agosto de 1971, todas as missões lunares norte-americanas quando estiveram na Lua deixaram vestígios que hoje permanecem facilmente observáveis. Se daqui para amanhã, por uma qualquer razão (que eu não imagino simpática), se perdesse a memória daqueles voos, uma outra civilização poderia encontrar na superfície lunar as provas inequívocas de que a nossa já ali havia estado. Mas aquelas provas têm um significado muito diferente daquele que representaria a colonização da Lua, algo que tem vindo a acontecer repetidas vezes desde muito antes de 1971, mas apenas em obras de ficção – como acontecia com a série televisiva Espaço: 1999.

Se faço esta distinção prévia entre os dois tipos de presença, o ocasional e o continuado (neste caso da conquista da Lua), é para melhor enquadrar uma notícia que a TVI24 reproduz que aponta para a hipótese de que terá havido outros navegadores que terão precedido os do infante D. Henrique na ilha da Madeira. A hipótese baseia-se num estudo efectuado por cientistas espanhóis ao DNA dos ratos madeirenses em que estes se vêm a revelar geneticamente mais proximamente aparentados com as espécies norte-europeias do que com as ibéricas. Em complemento, um processo de datação (que a notícia não específica) atribui aos ossos que terão servido de base aos estudos uma antiguidade entre os Séculos X/XI.
Como esse período corresponde ao apogeu da expansão viking, aí temos um belo pretexto para ilustrarmos a notícia com um ratinho ornado de um capacete com chifres e cumpre-se a missão jornalística de informar! De facto, os dados da notícia não são novos e a oportunidade desta notícia e a sua origem não me parecem de todo inocentes. Os primeiros resultados sobre este assunto do parentesco do DNA dos ratos já foram publicados há dois anos e o seu âmbito foi muito mais alargado: incluiu regiões de todo o Atlântico Norte e organizações de diversos países. Os trabalhos de origem portuguesa foram objecto de uma notícia no Expresso há seis meses, com conclusões semelhantes para os ratos da Madeira… mas também dos Açores.
Nenhum historiador moderno cauteloso defenderá que os portugueses foram os descobridores originais da Madeira e dos Açores. Há muitos outros candidatos ao feito, a começar pelos fenícios na Antiguidade. Quanto muito dir-se-á que as ilhas estavam desertas quando os portugueses lá se instalaram no Século XV. E a importância histórica do facto é que foram os portugueses a ali se instalarem de forma continuada. Mas o que é bizarro em todo este episódio é a preocupação espanhola com a ancestralidade dos ratos madeirenses (mas só desses...). Será que a disputa sobre a soberania das Selvagens não terá alguma coisa a ver com esta beliscadela semi-subtil à legitimidade dos direitos portugueses sobre a Madeira?
Para quem ainda não tivesse dado por isso, é engraçado este cenário que faz com que os vikings possam ter aportado às ilhas atlânticas portuguesas muito anos antes de Portugal ter existido sequer. Mas, como as viagens dos astronautas norte-americanos, também as dos vikings não passam hoje de uma curiosidade científica. Quanto às possíveis intenções espanholas, nada se pode garantir como é costume nestes casos, mas claro, também não é difícil prever que os jornalistas da TVI24 que passaram esta história da agência EFE adiante devem ignorar tudo ou quase tudo do que aqui ficou explicado: nitidamente a apanhar bonés… Ou deveria especificar a pretexto do tema: foram apanhados na ratoeira?

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