O filme 1941 – Ano Louco em Hollywood tem esta cena espectacular, onde o pequeno percalço entre protagonistas se torna na antecâmara para uma gigantesca cena de pancadaria, onde os intervenientes se reagrupam e se enfrentam identificados pelas fardas. Como acontece mais vezes do que se pensa no cinema de Hollywood, o episódio inspira-se em acontecimentos reais que, no caso, sofreram um retoque de correcção política. Os Zoot Suit Riots (que se poderão traduzir por Tumultos das Fatiotas) tiveram lugar também durante a Segunda Guerra Mundial (em 1943) e também em Los Angeles mas, em vez de se confrontarem os militares do exército, da marinha e dos fuzileiros entre si, foram um encadeamento de assaltos que os militares (especialmente da marinha e dos fuzileiros) fizeram contra (alguns) civis.
Em 1943, a cidade de Los Angeles era simultaneamente uma praça de armas repleta de muitas dezenas de milhares de militares engajados na Guerra contra o Japão mas também era um dos mais importantes centro industriais da Costa Oeste dos Estados Unidos, repleto de outras centenas de milhares de operários, na maioria forasteiros. Aquilo que era conhecido por zoot suit era um figurino de fato de corte exótico muitas vezes de cores exuberantes – é o fato de A Máscara de Jim Carrey, por exemplo – que se tornara identificativo dos jovens da comunidade hispânica da Califórnia. Ora na cidade, havia um tremendo potencial de conflito racial pois a esmagadora maioria dos mobilizados militares era de ascendência europeia e uma apreciável percentagem dos civis não eram mobilizáveis por serem de nacionalidade mexicana…
Os tumultos começaram há precisamente 70 anos, em 3 de Junho de 1943. Ter dado o nome de tumultos aos incidentes induz em erro: durante duas semanas, grupos ad-hoc de militares fardados percorriam à noite as ruas de Los Angeles agredindo, despindo e humilhando os civis que vestissem as tais fatiotas (abaixo), perante a indiferença das autoridades e o incitamento do público e da imprensa locais. A motivação dos agressores podia ser instintiva e até mesmo compreensível, mas não era desculpável. Foi um verdadeiro embaraço para os Estados Unidos que haviam entrado no conflito arrogando-se uma superioridade moral que era arrasada por aquela demonstração de xenofobia e racismo. Tanto assim que quando Steven Spielberg recuperou o episódio para o seu filme 1941 o purgou da sua essência de pogrom…
E exactamente no mesmo ano e no mesmo mês ocorreram os motins raciais de Detroit, o que não deixa de ser curioso.
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