Um evento de impacto acontece quando a colisão de um objecto vindo do espaço com o nosso planeta desencadeia outros acontecimentos de ordem geológica e climática de uma tal dimensão que vêm a afectar significativamente os equilíbrios ecológicos da biosfera. O mesmo conceito pode ser aplicado de forma figurada àquelas decisões que afectam de forma irreversível o status quo político até então vigente numa sociedade, de que um exemplo concreto e recente terá sido a decisão governamental grega de encerrar as transmissões da rádio e televisão públicas. O governo já anunciou a sua intenção de criar uma nova empresa apenas com uma fracção do pessoal da actual para retomar as emissões a partir de Agosto próximo mas, como as ondas de impacto de um meteorito, há que reconhecer que, com o mais do que previsível critério de selecção do pessoal que virá a fazer parte da nova empresa, torna-se quase certo que o ecossistema da disputa política mediática grega nunca mais voltará a ser o mesmo.
O episódio lembrou-me um outro evento de impacto semelhante que aconteceu em Portugal, embora o meteorito fosse menor: apenas a agência noticiosa nacional. Em Abril de 1974 havia uma agência noticiosa mais conhecida: a ANI (acima), privada, mas que apenas veiculava informação avalizada. Era pequena mas prometia expandir-se: como aqui se pode acompanhar, teria contratado umas 19 pessoas entre 1956 e 1972, 8 adicionais em 1973. Depois do 25 de Abril a ANI tornou-se na ANOP (1975), agora empresa pública e sob assumida tutela do Estado e um quadro de pessoal a aumentar: 9 admissões em 1974, 19 em 1975, 27 em 1976, 44 em 1977, 48 em 1978, 34 em 1979… Quando a AD venceu as eleições de Dezembro de 1979 e quis por sua vez meter os seus (30 admissões em 1980) apercebeu-se que a ANOP, além de ser de difícil domesticação, estaria cheia que nem uma carruagem de metro em hora de ponta. A insustentabilidade financeira foi um dos motivos para que, no Verão de 1982, o governo anunciasse a extinção da ANOP ao mesmo tempo que criava outra agência, a Notícias de Portugal, com gente da sua confiança.
Até aqui a história assemelhou-se à da televisão grega mas o desfecho foi diferente: o presidente de então, Ramalho Eanes, vetou o decreto que extinguia a ANOP em Novembro de 1982. Em Abril do ano seguinte houve eleições de que resultou o governo do Bloco Central. A ANOP e a Notícias de Portugal acabaram por se fundir numa única agência, a actual Lusa, em 1986.
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