Estas viagens ao passado fazem-nos reviver casos que nos podem irmanar, portugueses, com a actual luta dos trabalhadores da rádio e televisão da Grécia. É o caso da história da ocupação da Rádio Renascença (RR). A emissora da Igreja Católica foi ocupada pelos trabalhadores em Maio de 1975, passando a ser uma emissora revolucionária, o que era uma atitude que se inseria perfeitamente no espírito do Processo Revolucionário em Curso (PREC) que estava então a aproximar-se do seu zénite. Porém, só quem viveu o PREC compreenderá o dilema do governo que, depois de repetidamente ter instado a comissão de trabalhadores da RR a repor a legalidade e de ter sido olimpicamente ignorado, se terá visto obrigado a, sem pré-aviso e pela calada da noite (4 da madrugada), enviar uma força militar para proteger os técnicos encarregados de desligar as antenas emissoras (28 de Setembro). A Rádio Renascença deixou de emitir e estar-se-ia então numa posição algo parecida com o que aconteceu a semana passada com a ERT grega, quando o governo enviou uma força policial para proteger os que foram encarregues de desligar os emissores. Mas engana-se quem ingenuamente pensar que estas histórias acabam assim...
Tanto cá como lá, as coisas tendem a evoluir. Na Grécia parece vir a ser o poder judicial a anular a manobra de aspecto clandestino do governo. No Portugal do PREC foi o poder revolucionário (acima) que neutralizou a decisão governamental: cerca de três semanas depois, a 23 de Outubro, também pela calada da noite (3H15 da manhã), ocupantes da RR rebentaram com os cadeados das antenas, ligaram-nas e reatou-se a emissão - apropriadamente ao som da Internacional! Comentando os acontecimentos de 1975, uma mensagem dos trabalhadores do sector da informação da RTP, salientava a necessidade de levar de vencida a ofensiva contra-revolucionária e social-democrata na Informação, que era uma das principais frentes para os inimigos da Revolução portuguesa e saudava expressamente a luta dos trabalhadores da Rádio Renascença. E em 2013, o comunicado da comissão de trabalhadores da RTP qualificava a acção do governo grego de golpe de mão e assumia ter os olhos postos na luta na Grécia e nos ensinamentos que dela se devem extrair para além de se solidarizarem com os colegas da ERT. Mesmo com quase 38 anos de permeio, os trabalhadores da RTP mostram que a luta continua e como eles estão sempre do lado certo da História.
Resta contar o desfecho dos acontecimentos em Portugal, que os da Grécia, já se sabe, ainda estão longe de se decidir. A 7 de Novembro e novamente de madrugada (às 4H40), um destacamento de paraquedistas foi novamente incumbido de desactivar as antenas emissoras da Rádio Renascença. Desta vez porém, para que não se repetisse outra reocupação revolucionária, em vez do equipamento das antenas ser desligado como anteriormente, foi destruído à bomba! Um verdadeiro caso merecedor do interesse da Ciência Política, quando o próprio Estado, para conseguir exercer a sua autoridade, teve que recorrer a actos que normalmente estão associados a terroristas…
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