O nome Dolly está mundialmente associado à ovelha que foi clonada a partir de células de outra em 1996. Menos lembrada é a razão da escolha daquele nome: as células clonadas eram da glândula mamária e isso remetia para uma outra Dolly… Parton de apelido, cantora country, famosa pela exuberância das suas mamas. Contudo, o mundo do cricket, simultaneamente globalizado mas restrito à metrópole e às antigas colónias britânicas onde ele é praticado, também possui um outro Dolly de fama mundial, desconhecido de quem o não frequenta, na pessoa de Basil D’Oliveira (1931-2011), um famoso jogador inglês de origem sul-africana. Este outro Dolly nasceu na África do Sul, na província do Cabo. Tinha ascendência indiana e, presumivelmente, portuguesa mas quando da classificação racial de 1950, preconizada pelo regime de apartheid, em mais um das dezenas de milhares de paradoxos então gerados, foi classificado como coloured (mestiço). De qualquer forma, sendo indiano ou considerado mestiço, Basil estava impedido de participar nas melhores competições do cricket sul-africano, reservadas para jogadores brancos. Frustrado, em 1960 emigrou para o Reino Unido, onde passou a competir, valorizando-se e adquirindo a nacionalidade britânica. Foi seleccionado pela primeira vez em 1966.
Mas, embora seja considerado um jogador excepcional, o pico de notoriedade foi alcançado em 1968, quando de uma digressão da selecção inglesa de cricket pela África do Sul. Nesses anos, já só as organizações internacionais dos desportos tradicionais britânicos (como o cricket ou o rugby) é que contrariavam a tendência global para que houvesse um boicote desportivo à África do Sul por causa do apartheid. Mas os sul-africanos não pareciam sentir-se fragilizados com isso, e neste caso, o próprio primeiro-ministro John Vorster interveio, instando os britânicos a retirar Dolly da sua selecção. O desplante da atitude – procurando condicionar a raça dos jogadores que os britânicos seleccionavam para a sua própria selecção para aquela digressão – provocou uma reacção pública ultrajada da parte inglesa, incentivada pelo próprio governo trabalhista de Harold Wilson. Não foi apenas a digressão da equipa britânica que veio a ser cancelada, a digressão de retribuição da África do Sul a Inglaterra, que estaria prevista para dali a dois anos, também o foi e, em rigor, iriam decorrer mais 23 anos até que a selecção sul-africana de cricket saísse do apartheid para onde se remetera e voltasse a disputar uma partida internacional. Ironicamente o adversário foi a Índia, num jogo disputado em Calcutá em Novembro de 1991...
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