04 agosto 2012

O TEMPO DAS ARMAS E O TEMPO DA DIPLOMACIA

Não me parece nada surpreendente que Kofi Annan tenha anunciado a sua intenção de não prolongar o seu mandato como mediador da ONU para o conflito sírio. O que surpreendeu – e isto é escrito como um elogio – foi a sua perseverança, apesar dos fracassos consecutivos das suas iniciativas. Ainda que os diplomatas costumem ter tradicionalmente um discurso mais escorreito do que os militares quando defendem a pertinência das suas iniciativas, este é um exemplo típico que, antes da maturação da vontade de ambas as partes, o exercício da negociação – que qualquer dos lados nunca pode rejeitar para não parecerem mal na fotografia… – vem a revelar-se um passatempo inútil.

Relembre-se como já aqui se havia recordado neste blogue, antes da actual guerra civil, e a propósito do massacre de Hama de Fevereiro de 1982, como o regime sírio registava um sólido historial de impunidades na repressão civil. Surpreendente seria que, mau grado os trinta anos passados, o mesmo regime tivesse mudado de atitude, tanto mais que os seus apoios internacionais se mantêm. E o episódio do abate de um caça turco que invadiu espaço aéreo sírioque os turcos encaixaram sem retaliar – veio mostrar não apenas a solidez militar do regime, como desiludir os mais entusiasmados que começavam a pensar numa intervenção directa num país em desagregação.

Apesar da catadupa de notícias negativas no noticiário internacional, o regime sírio parece afinal ter sido pouco desgastado e, consequentemente, mantem-se disposto a oferecer muito pouco aos rebeldes. Vale a pena lembrar que em Dezembro de 1916, a meio da Primeira Guerra Mundial, houve uma tentativa de mediação em que se perguntou aos beligerantes as suas condições para a negociação de um armistício. As propostas da Entente foram, grosso modo, as que vieram a constar do Tratado de Versalhes em 1919. Mas nessa altura, elas só tiveram o condão de irritar uma Alemanha (abaixo) que se sentia até aí – e com toda a razão… – numa posição militar tacticamente vantajosa.
A caricatura intitula-se A Pomba da Entente (Die friedenstaube der entente), mas trata-se de um abutre que, à laia de ramo de oliveira, carrega um azorrague no bico e um mapa nas garras onde a Alemanha e seus aliados aparecem despojados de parte dos seus territórios.

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