Não
me parece nada surpreendente que Kofi Annan tenha anunciado a
sua intenção de não prolongar o seu mandato como mediador da ONU para o
conflito sírio. O que surpreendeu – e isto é escrito como um elogio – foi a sua
perseverança, apesar dos fracassos consecutivos das suas iniciativas. Ainda que
os diplomatas costumem ter tradicionalmente um discurso mais escorreito do que
os militares quando defendem a pertinência das suas iniciativas, este é um
exemplo típico que, antes da
maturação da vontade de ambas as partes, o exercício da negociação
– que qualquer dos lados nunca pode rejeitar para não parecerem mal na fotografia…
– vem a revelar-se um passatempo
inútil.
Relembre-se
como já aqui se havia recordado neste blogue,
antes da actual guerra civil, e a
propósito do massacre de Hama de Fevereiro de 1982, como o regime sírio
registava um sólido historial de impunidades na repressão civil. Surpreendente
seria que, mau grado os trinta anos passados, o mesmo regime tivesse mudado de
atitude, tanto mais que os
seus apoios internacionais se mantêm. E o
episódio do abate de um caça turco que invadiu espaço aéreo sírio – que os turcos encaixaram sem
retaliar – veio mostrar não apenas a solidez militar do regime, como
desiludir os mais entusiasmados
que começavam a pensar numa intervenção directa num país em desagregação.
Apesar da catadupa
de notícias negativas no noticiário internacional, o regime sírio parece
afinal ter sido pouco desgastado
e, consequentemente, mantem-se disposto a oferecer muito pouco aos rebeldes.
Vale a pena lembrar que em Dezembro de 1916, a meio da Primeira Guerra Mundial,
houve uma tentativa de mediação em que se perguntou aos beligerantes as suas
condições para a negociação de um armistício. As propostas da Entente foram, grosso
modo, as que vieram a constar do Tratado de Versalhes em 1919. Mas nessa altura,
elas só tiveram o condão de irritar uma Alemanha (abaixo) que se sentia até aí
– e com toda a razão… – numa posição militar tacticamente vantajosa.
A caricatura intitula-se A Pomba da Entente (Die friedenstaube der entente), mas trata-se de um abutre que, à laia de ramo de oliveira, carrega um azorrague no bico e um mapa nas garras onde a Alemanha e seus aliados aparecem
despojados de parte dos seus territórios.
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