No rescaldo de indignações primárias e de indignações secundárias
causadas pela ausência de algumas das anteriores, tive que ir à Wikipedia para compreender o
que verdadeiramente se passara nos confrontos entre polícias e mineiros na
África do Sul, que se saldou pela morte de 43 pessoas. Começa por ser, antes de
mais, uma disputa sindical, em que o NUM, um sindicato próximo do ANC (partido governamental sul-africano), perdeu o controlo da representação dos mineiros daquela mina para um rival: o AMCU. Nessa disputa, o radicalismo prosperou: por exemplo, uma das propostas sindicais era para que o salário dos perfuradores fosse aumentado em 200% - tratava-se de uma proposta destinada a gerar conflito aberto,
considerando que a inflação anual na África do Sul é de 5%...
A greve começou no dia
10 de Agosto e o conflito triangular envolvendo patronato e autoridades por um
lado e as duas organizações sindicais entre si por outro, já registara vários episódios
sangrentos, um dos quais, em 13 de Agosto, se saldara por 9 mortos, entre os quais 2 polícias. A ausência da menção a este último episódio na maioria das
notícias disponíveis é uma demonstração, além dos métodos do tradicional jornalismo de manada, do quanto a violência é endémica na África do Sul a ponto de um
incidente com 9 mortos não ter conseguido despertar as atenções da informação
mundial: foi preciso subir a parada para 34 e mesmo assim, catapultada pelas
imagens acima. Tornou-se assim numa tragédia para a qual já se nomeou uma comissão de inquérito cujas conclusões são previsíveis…
Porque embora pareça que os mineiros hajam sido punidos pela seu radicalismo mas sobretudo pela sua
dissidência em relação ao ANC, também é muito previsível
que as cúpulas do ANC se queiram demarcar deste massacre e punir bodes
expiatórios pelos excessos. Mas não deixa de ser irónico que neste conflito se
cruze o confronto sindical clássico com a disputa pelo controlo do aparelho
sindical numa reminiscência dos totalitarismos comunista e fascista. Tudo isto
se pode reconstruir lendo a entrada do Massacre de Marikana da Wikipedia, um embaraço
total para os profissionais. Porém, antes dos elogios, veja-se o outro lado da Wikipedia
consultando-se, para exemplo, a página dedicada a João Vale e Azevedo, onde
somos informados que ele se fixou em Londres desde 2006…
Excelente post. Penso que o choque da comunidade internacional em relação à magnitude do massacre num conflito laboral é compreensível. O que não é compreensível nem aceitável é a manipulação informativa a que somos sujeitos, pois apenas se divulgam determinadas partes das notícias para induzir indignações selectivas. Mais uma vez, concluo que é manipulação quando, se calhar, é mesmo incompetência dos profissionais da informação.
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