O aparecimento da categoria de ministro sem pasta é uma das menos conhecidas Conquistas de Abril... Houve entre três e quatro
ministros exibindo essa categoria bizarra em qualquer dos primeiros governos provisórios durante
1974 e 1975. As razões para a existência de uma tal figura paradoxal, a de um
ministro que usufrui do estatuto sem o encargo das responsabilidades
específicas de um pelouro, explicam-se normalmente pela atribuição de posições
de visibilidade a conselheiros políticos destacados (seria o caso de Sá
Carneiro no governo Palma Carlos) ou a líderes de organizações reputadas
importantes de manter integradas na área governamental (seria o caso de Álvaro Cunhal – acima – em todos os primeiros quatro governos provisórios).
O que nos interessa para esta história é que a inovação política/administrativa bem depressa foi
transposta para a realidade das colónias portuguesas, então envolvidas em
complicados processos de transição para as respectivas independências. Os governos de
transição que tomaram posse nas colónias em vias de o deixar de ser tinham também a sua
quota de ministros sem pasta (ou equivalente), especialmente em Angola (acima) onde se
disputavam três movimentos: FNLA, MPLA e UNITA. E lá surgiu a piada entre os
brancos locais, que, naqueles tempos de transformações, se consolavam do seu analfabetismo
político gozando com o dos negros: pergunta um mano para outro: – Ouve lá, tu
querias ser ministro com pasta ou sem pasta? – Com pasta, claro!
(A última fotografia é de Malick Sidibé.)
Foi um hábito que ficou. Daí o ministro sem pasta deste governo - António Borges.
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