
Este
poste resulta da junção de vários episódios esparsos. Em princípios deste ano, a propósito de
um poste comentando a cessação dos serviços em português da BBC, inseri um comentário alargando o benefício dos serviços desempenhados por aquela emissora, que costumam ser mais associados ao período da ditadura do Estado Novo, também ao período do
Verão quente do
PREC. Foi um comentário notoriamente mal recebido pelo autor do
blogue que me respondeu com uma simpática pedagogia:
depois do 25 de Abril não havia censura e sempre houve jornais contra o(s) governo(s). Só se comparam coisas comparáveis e as ditaduras só se comparam com outras ditaduras.
Lá tentei responder a Francisco Seixas da Costa com a argumentação que possuía: que a expressão chave do seu texto fora
bloqueio informativo, era a expressão que usava no meu comentário e era essa mesma a situação que se vivia em pleno
Verão quente de 1975: que me recordasse, as forças ditas
progressistas controlavam a única estação de televisão, as três emissoras de rádio e cinco dos seis jornais diários que tradicionalmente se publicavam em Lisboa - o sexto, o
República, próximo do
PS,
estava em disputa... Só mais tarde, através de um outro
poste, descobri uma possível razão para que o meu interlocutor não se tivesse sentido
bloqueado – é que à época
era militante do MES…

O
MES era uma organização de esquerda daquelas metaforicamente parecidas com um
girino: era um alfobre de
intelectuais mas apenas recolhera 1,0% dos votos nas
eleições de Abril de 1975. Não que isso fosse importante para o discurso político da época (acima). O
MES inseria-se completamente no
espírito do
Processo Revolucionário Em Curso e isso é que seria importante como
organização revolucionária que pretendia ser. O
MES fez parte da
Frente de Unidade Revolucionária, uma das últimas
engenharias políticas do
PREC (abaixo) e depois foi-se desagregando. Mas a quem nele militou não lhe reconheço à partida a visão
abrangente para me explicar
o que é que se deve comparar com o quê…

O último episódio que completa a história é uma entrevista de Nuno Portas ao
Expresso hoje, onde se pergunta ao pai de Miguel e Paulo Portas se ele fora fundador do
Movimento da Esquerda Socialista? -
Não, o MES não me aceitou… Não aceitava membros do governo burguês¹,
como se não fôssemos igualmente burgueses. Foi um amigo meu, não foi nenhum malandro quem mo disse. Posso ainda acrescentar que em seis meses estavam todos fora. Inclusive esse… Eu bem sei quanto se tornou rotina dar
uma abordagem ligeira de jantar de curso aos acontecimentos daquela época, mas querem agora que acreditemos que tudo se resumiu a uma
brincadeira inconsequente de adultos?...
¹ Nuno Portas foi Secretário de Estado dos 1º, 2º e 3º governos provisórios (1974-75).
Não sabia que tinha tão má impressão de pessoas como Manuel Braga da Cruz, reitor da Universidade Católica, António Ribeiro Ferreira, diretor do i, ou David Justino, ex-ministro da Educação do PSD e consultor do Presidente da República. Todos ex-militantes do MES, claro.
ResponderEliminarComeço por confessar que desconhecia que qualquer das três pessoas que o Francisco Seixas da Costa menciona havia sido militante do MES. E estou em crer que daquilo que escrevi dificilmente se extrairá a conclusão que eu tenho “má impressão” de todo e qualquer antigo militante do MES apenas… porque sim.
ResponderEliminarDá-se porém o caso de já aqui ter feito uma referência muito pouco simpática a António Ribeiro Ferreira. Porque ele dá mostras de uma ignorância que é incompatível com o estatuto que pretende projectar de si mesmo. Poder-se-á verificar no poste que dedico ao assunto (http://herdeirodeaecio.blogspot.com/2009/05/o-rio-bosforo.html) que considero inconcebível que ele, escrevendo de Istambul, julgue que o Bósforo é um Rio e não um Estreito. É uma ignorância – e uma incompetência – de o mandar descobrir… as «nascentes» do Bósforo!
Mas não tenho razões para ter “más impressões” de Braga da Cruz ou de David Justino ou de qualquer outro ex-militante do MES, apenas por o ter sido.
Porém, discordarei profundamente quando qualquer deles nos quiser contar uma visão “edulcorada”, revista para os tempos modernos, dos “idos” de 1974-75. É que as provas documentais – não sei se o Francisco Seixas da Costa chegou a “matar saudades” com a ligação que efectuei no meu «poste» para as primeiras páginas do jornal do seu antigo partido… – não corroboram as evocações de um tempo que parece ter sido de uma grande galhofa colectiva e inofensiva, como alguns ex-militantes – onde o incluo – nos querem fazer crer.